Com a intenção de dar qualificação a imigrantes e refugiados, um curso reuniu 35 alunos durante três dias na UniRitter. O encontro, no campus FAPA, na zona norte de Porto Alegre, surgiu de uma parceira entre o Núcleo de Apoio e Assessoria a Refugiados e Imigrantes (Naari) e a multinacional Nestlé.
Este é o segundo ano em que o Naari realiza o encontro, mas é a primeira vez em que a Nestlé participa. Para o programa, a companhia trouxe à Capital alguns de seus chefs. O treinamento é por meio do programa Yocuta, criado pela empresa e que busca capacitar e inserir jovens de baixa renda no mercado de trabalho.
Os encontros entre os alunos e professores ocorreram entre a quarta e a sexta-feira passada. Além dos profissionais, alunos do curso de Gastronomia da UniRitter também auxiliariam no preparo dos alimentos e no auxílio aos interessados em aprender sobre a comida brasileira. Para o coordenador do curso, Moisés Basso, a oportunidade é importante para os estudantes terem contato com os profissionais de outros Estados e também com os imigrantes e refugiados.
Aprendizado
Nas aulas, além de obter conhecimento sobre o preparo e uso de chocolates em receitas, os aprendizes de cozinheiros dominaram o preparo de carnes, massas, risotos e outras comidas salgadas. A elaboração de bolos, coberturas e outros ramos da confeitaria também fez parte do currículo.
— A formatura deles será nesta quinta-feira. Eles irão preparar os pratos que serão servidos no coquetel de encerramento — explica a professora de Relações Internacionais e coordenadora do Naari, Fernanda Barasoul.
Durante o coquetel de encerramento, empresas que podem oferecer oportunidades de emprego e auxiliar os imigrantes em sua recolocação no mercado de trabalho estarão presentes.
— É o nosso principal objetivo, dar capacitação gratuita para estas pessoas e permitir que eles tenham mais chances na hora de buscar emprego — conta a chef executiva da Nestlé, Flávia Barreto de Sá.
Chance para empreender
Há dois anos no Brasil, a venezuelana Natalia Mendez, 30 anos, viu no curso a chance de aprender mais sobre a culinária local. Sua ideia é empreender vendendo doces e outros alimentos. Moradora do bairro Partenon, em Porto Alegre, ela chegou a trabalhar como auxiliar de limpeza na Capital, mas quer tentar viver de um negócio próprio. Na Venezuela, preparava comidas típicas do país para comercialização:
— Mas a economia alterava muito o preço da comida, não tinha certeza de que conseguiria preparar os pratos sempre. Aqui, quero começar fazendo pudim, depois, vou partir para outras coisas.
Vivendo no bairro Rio Branco, em Canoas, Venette Reme, 29 anos, veio do Haiti há dois anos. Atualmente, trabalha fazendo a limpeza interna de carros em uma locadora de automóveis. O que atraiu Venette para o curso foi a chance de conhecer mais comidas brasileiras.
— Gosto muito de cozinhar, mas sei as coisas do meu país. Agora, se tiver chance de conseguir um emprego em algum restaurante por aqui, terei estas referências — projeta Venette.
A auxiliar de serviços gerais desempregada Sherline Pierre, 26 anos, veio do bairro Querência, em Viamão, para as aulas. Há um ano sem trabalho, a haitiana espera que a qualificação lhe na busca por uma reinserção no mercado.
— É meu sonho trabalhar fazendo comida, quem sabe isso me ajude na realização deste desejo.