Um sonho que nasceu do empenho da comunidade, em 1976, há anos sobrevive com dificuldades e falta de investimentos. No entanto, um novo e importante capítulo na história da Biblioteca Pública Leopoldo Boeck, no bairro Jardim Sabará, na Capital, começa a se desenhar a partir de agora. Nesta sexta-feira, a única funcionária da biblioteca se aposentou e nenhum substituto foi anunciado. Preocupada, a comunidade buscou respostas da Secretaria Estadual de Cultura e, até agora, não tem certeza de como e se a biblioteca será mantida.
– A informação que nós temos é que a coordenadora das bibliotecas no Estado se disponibilizou a vir três vezes por semana, pela manhã. Mas, nos demais dias, não será aberta – relata o contador e morador do bairro Laone Simonetti de Oliveira, 49 anos.
Por 26 anos, quem abriu as portas da biblioteca, diariamente, foi a servidora pública Idione Demarchi Medeiros, 59 anos. Uma colega também se aposentou no fim de setembro.
Emocionada, Idione conta que o local é frequentado por moradores de várias idades do bairro e, inclusive, por usuários e funcionários da Unidade de Saúde Coinma, que funciona no terreno à frente. Nas segundas e quartas, grupos de artesanato e terapias alternativas da saúde utilizavam o espaço para os encontros.
– É um sentimento de tristeza, de ver que o Estado não está preocupado em investir em cultura. Estou aqui há todo esse tempo e não me lembro de verba pública para compra de livros, o que se tem foi conseguido por meio de ações da comunidade e de doações – disse.
Sem investimento
A biblioteca tem 24.800 livros catalogados, além de revistas, gibis e um espaço exclusivo para as crianças. Mensalmente, cerca de 500 livros são emprestados e, aproximadamente, 100 pessoas utilizam o local para pesquisas, leitura ou trabalho.
O comerciário Renato Machado, 58 anos, é frequentador assíduo da biblioteca. Acompanhou a filha Renata, 19 anos, hoje estudante de Biologia na UFRGS, quando ela buscava apoio no local para consultas aos livros exigidos no vestibular.
– Eu lembro que minha mãe pegava livros aqui. Eu venho há mais de 20 anos, quanto conhecimento adquiri em razão disso. É um espaço cultural fundamental para nossa comunidade, espero que continue –declarou Renato.
A biblioteca não conta com sistema de informatização. Os livros estão registrados em sistema, mas os computadores não funcionam. As fichas dos usuários ainda são feitas com papel e organizadas em uma caixa. O material de trabalho, segundo a ex-funcionária, é restrito. Há lâmpadas queimadas há meses, sem substituição.
local terá “plantões de atendimento”
Os problemas estruturais preocupam a comunidade, mas, nesse momento, a prioridade é resolver a falta de funcionário. Laone, por exemplo, se mudou para o bairro em 1982 e lembra que, naquela época, já ia à biblioteca. Hoje, incentiva a filha Lorena, oito anos, a frequentar o espaço.
– Esta é uma iniciativa da comunidade que teve apoio do Estado. Dificuldades sempre existiram e sempre existirão, mas o que nos preocupa agora é a possibilidade de fechar. Em conversa com a secretária no dia 16 de outubro ficou claro que ela não quer isso, mas a situação financeira do Estado é difícil, muito funcionários estão pedindo aposentadoria em função do plano de carreira. Enquanto isso, as escolas estão indicando aos alunos o uso da biblioteca, vendo a necessidade da criança em ter contato com os livros e com a tecnologia ao mesmo tempo – reforça o contador.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria da Cultura informou que, a partir de 31 de outubro, o Sistema Estadual de Bibliotecas fará plantões de atendimento em escalas e horários a serem definidos, para não deixar a comunidade desassistida.