A partir da próxima segunda-feira (21), os seis Centros da Juventude (CJs), espaços que oferecem cursos de formação e qualificação profissional a jovens da Capital e da Região Metropolitana, passarão a atuar sob uma uniformidade de regras. A mudança poderá alterar, em alguns casos, as entidades que geriam os projetos.
Recentemente, organizações que já atuavam à frente dos CJs e novas candidatas foram chamados a habilitar-se à administração dos locais. O trabalho conduzido pela Secretaria Estadual da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH) faz parte de um processo de padronização de valores e prazos dos editais.
— Procuramos uniformizar, pois isso não existia antes. Tínhamos seis instituições com valores (de contratos) distintos. Com a escassez de recursos e para ter uma organicidade, nós optamos por chamar um novo processo de habilitação das instituições. Já no dia 21, todas estarão atuando no novo modelo — explicou o secretário Catarina Paladini.
A divulgação das entidades só ocorrerá na sexta-feira (18), após reunião em Brasília com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em Alvorada, porém, houve uma alteração específica. Sob processo de avaliação da consultoria do BID — que mede e acompanha as políticas desenvolvidas pelos CJs —, a Associação Beneficente Cultural São Jerônimo recebeu parecer desfavorável à renovação do contrato e foi desabilitada a participar do novo processo. Segundo a SJCDH, na segunda-feira, uma nova entidade assumirá o Centro, sem prejuízo ao andamento do projeto.
Surpresa
A Associação São Jerônimo diz que foi surpreendida, em setembro, com a notificação do governo do Estado anunciando o fim da parceria entre poder público e entidade. Com o fim do contrato previsto para o dia 20 de outubro, a direção correu contra o tempo para finalizar os cursos em andamento e formar os alunos inscritos. No dia 11, as últimas turmas realizaram as formaturas, encerrando mais um capítulo no trabalho da entidade, que vinha no comando do CJ desde 2017. Trinta oficineiros já foram dispensados do trabalho e outros 13 funcionários encerram as atividades na sexta-feira.
Há uma semana, o prédio onde ocorriam as oficinas está vazio, preenchido apenas pelos frequentadores do Centro Profissionalizante Milton Santos, que funciona no mesmo local. A notícia repentina desagradou alunos e tem preocupado a comunidade.
— Eu sempre tive dificuldades de conversar com as pessoas, mas conheci o pessoal e comecei a me abrir. Essa troca na gestão vai ser muito difícil para mim — relata a estudante Amanda Oliveira, 16 anos.
Trocas de coordenação
A notificação enviada pela SJCDH à Associação São Jerônimo cita que o CJ de Alvorada vinha apresentando vários problemas no decorrer de sua gestão, como seguidas trocas de coordenação, que atrapalharam no desenvolvimento da metodologia de trabalho. Além disso, autorizações de notas fiscais não batiam com as demandas do Centro.
Coordenadora socioprofissional da associação, Sheila Santos explica que relatórios eram apresentados com regularidade e, quando apontados problemas na condução das atividades, corrigidos.
As trocas de coordenadores, segundo Sheila, ocorreram duas vezes com a coordenação geral e duas vezes com a coordenação socioprofissional. A razão seria a inadequação ao projeto e às diretrizes da associação.
— No contrato, não diz que essas trocas não podem ser feitas, e quando elas aconteceram, foram por meio de edital de contratação, tudo muito transparente — explicou.
— Ainda acredito que nos chamarão (o governo) para dialogar, pois ficou tudo muito vago. A nossa preocupação é com o jovem e, também, com a entidade que irá assumir, que terá que começar tudo do zero — completa o presidente da Associação, Aldori Santos.
Atraso em salários
Os Centros da Juventude fazem parte do Programa de Oportunidades e Direitos (POD), que trabalha com jovens de 15 a 24 anos, em situação de vulnerabilidade econômica e social, e suas comunidades. Seis Centros da Juventude foram implantados no Estado, quatro em Porto Alegre (Cruzeiro, Lomba do Pinheiro, Restinga e Rubem Berta), um em Alvorada e outro em Viamão. Cada um dos Centros tem 57 alunos selecionados como Jovem Multiplicador, que recebem auxílio para atuar como lideranças na promoção da cultura da paz e não violência em seus territórios. Eric de Abreu, 20 anos, morador do bairro Umbu, atuava como Jovem Multiplicador no CJ Alvorada há 10 meses.
— Fiz quase todos os cursos que eles abriam e ofereciam aqui, desde maquiagem às oficinas de muay thai. Conheço toda a equipe, o método de ensino, sei do trabalho que fizemos aqui. Fomos atrás de jovens que, muitas vezes, não têm apoio em casa, na escola, e que encontraram aqui um lugar para se qualificar. Além disso, ninguém nos deu explicação nenhuma sobre como ficarão nossos salários, que estão atrasados há três meses — descreveu Eric.
Em relação aos atrasos, o governo diz que o atraso é de dois meses e que vinha ocorrendo desde o ano passado. Por um período, neste ano, eles foram colocados em dia, mas voltaram a atrasar por conta dos problemas financeiros enfrentados pelo Estado. A SJCDH informou que procura equacionar o problema o quanto antes, mas não deu prazos.