Desde 2011 circula pelas largas vias do 4º Distrito, em Porto Alegre, a conversa de que o poder público planeja a “revitalização” da região que compreende os bairros Floresta, Navegantes, São Geraldo, Farrapos e Humaitá. O termo, inclusive, com o tempo ganhou certa antipatia dos moradores da área. Como aponta, com ironia, Eduardo Fontana, sócio do bar Agulha:
– O que faço com o pessoal que mora ao redor que já está vivo?
Cansados de planejar e replanejar a antiga zona industrial da cidade, prefeitura, empreendedores e entidades parceiras resolveram dar início a um projeto que consiste em colocar a mão na massa de uma vez por todas e resolver os problemas pelo caminho. Parte do Pacto Alegre – uma aliança para tornar a Capital um polo de inovação –, o Hands On 4D delimitou um espaço geográfico de aproximadamente duas quadras – entre as avenidas Farrapos, São Pedro e São Paulo e a Rua Moura Azevedo – no bairro Navegantes para intensificar o ritmo dos serviços urbanos e, ao mesmo tempo, transformá-lo em laboratório de experiências.
– Por exemplo: se formos testar um equipamento como novo modelo de lixeira ou uma boca de lobo inteligente, que avisa quando estiver entupida. Não podemos fazer licitação para um balão de ensaio que pode dar errado. Esse território vai servir para esse tipo de teste que pode ser replicado no bairro e, depois, em toda a cidade – explica Ramiro Rosário, secretário municipal de Serviços Urbanos.
Ao mesmo tempo, a ideia é intensificar serviços como limpeza, poda e manutenção. Um breve passeio pela região mostra que ainda há problemas sérios, sobretudo buracos em calçadas e emaranhados de fios. A prefeitura ressalta a ação de parceiros e argumenta que o trabalho está em andamento. Já houve mudança na iluminação do local, com lâmpadas de LED.
Alguns serviços são menos visíveis. O Sebrae, um dos signatários do Pacto Alegre, participará do Hands On com um diagnóstico da necessidade de cada um dos empreendedores do quadrilátero.
– Faremos primeiro um trabalho de clínico geral. Depois, teremos receituário para cada local. Como um restaurante de bairro pode se adaptar à clientela de uma empresa que abrir em frente a ele? Como ele faz para diversificar e precificar um novo cardápio – exemplifica Paulo Bruscato, gerente regional do Sebrae.
Também integrante do Hands On 4D, a NoOne, empresa de design de produtos prestes a se mudar para a região, colaborou fazendo o que costuma vender aos clientes: uma pesquisa em profundidade para entender melhor a região. Chegou a resultados curiosos (confira alguns números da pesquisa, abaixo), como diferentes visões de moradores e visitantes.
Os primeiros o veem como um espaço bucólico e interiorano, enquanto demais o enxergam com curiosidade e receios sobre a segurança.
– Nós mesmos tínhamos essa curiosidade sobre o que encontraríamos no bairro. Resolvemos fazer parte dessa revitalização “fazendo Justiça com as próprias mãos” – conta Mariana Gutheil, sócia-fundadora da NoOne.
O levantamento mostrou a diversidade do bairro.
– Um dos motivos dessa revitalização nunca ter decolado é tentar lidar com 4º Distrito como uma coisa só. Ele é muito diverso – diz Paulo Ardenghi, diretor de Inovação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.
Outros empreendedores do Hands On 4D chegam com a missão tripla de compreender, se misturar e prosperar no 4º Distrito. Como Camila Borelli, fundadora da NAU Live Spaces, coworking de mais de 200 estações de trabalho que funcionará no prédio da antiga Sociedade Gondoleiros, que passou por restauração recentemente:
– Uma coisa bacana é a preocupação em se integrar com a comunidade que já está lá. No nosso caso, por exemplo, todo o primeiro andar será aberto com espaços de gastronomia e entretenimento, pois não achávamos justo "privatizar" um prédio histórico dessa forma.
Por que 4º Distrito?
Conforme Leila Mattar, professora da PUCRS que dedicou doutorado em História ao 4º Distrito, o nome vem do final do século 18, quando Porto Alegre era dividida em seis distritos. O 1º Distrito compreendia a península onde hoje é o Centro Histórico. Quem saísse dali margeando o Guaíba e fosse para o sul, encontraria o 2º Distrito. Quem fosse para o norte também pelo Guaíba encontraria o 3º Distrito e depois o 4º Distrito, hoje ambos "encobertos" pela Avenida Castelo Branco. Com o tempo e a divisão em bairros, os distritos caíram em desuso exceto o 4º Distrito, antigo o distrito industrial da cidade.
Números da pesquisa da NoOne
- 91% dos moradores não gostariam de trocar de bairro, enquanto 50% dos visitantes dizem que morariam no 4° Distrito.
- 65% dos moradores e 44% dos visitantes se sentem tão seguros quanto em outros bairros.
- 64% dos moradores e visitantes têm muita vontade de participar da iniciativa, e 63% dos moradores acham que o bairro está melhorando.