Uma exposição de desenhos de humor inaugurada na segunda-feira (2) na Câmara Municipal de Porto Alegre sob o tema da Independência deveria se estender até o dia 19 de setembro, mas acabou durando menos de 24h.
A existência de ilustrações críticas ao governo federal, com destaque para uma charge que mostra o presidente Jair Bolsonaro lambendo os sapatos do colega norte-americano Donald Trump enquanto entrega o Brasil em uma bandeja, motivou o cancelamento da mostra por parte da presidente da Casa, Mônica Leal (PP). Artistas e vereadores de oposição se queixam de censura, enquanto Mônica sustenta que parte dos desenhos era ofensiva.
Montada pelos Grafistas Associados do Rio Grande do Sul (Grafar) e apoiada pelo gabinete do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), que encaminhou a reserva do espaço, a exposição chamada Independência em Risco ocupava a área diante da entrada do plenário.
Ali costumam ser exibidas obras visuais de cunho artístico ou histórico. A coleção atual reunia artistas como Edgar Vasques, Alexandre Beck, Edu, Bier, Hals, Latuff, Santiago, Schroder, entre outros nomes.
Um dos desenhos que despertou mais controvérsia, com a imagem de Bolsonaro submisso a Trump (veja abaixo), é de autoria de Latuff. Para o presidente da Grafar, Leandro Bierhals, a decisão de retirar os 36 desenhos do espaço público no final da manhã desta terça (3) foi um ato de censura:
— É censura, sim. Considerar uma obra desrespeitosa é algo subjetivo, mas quem se sente ofendido pode entrar com um processo. O que não pode é cancelar uma exposição. Os artistas vão se reunir ainda na noite desta terça e veremos que medidas tomar — afirma Bierhals, que usa o nome artístico Hals.
A vereadora Mônica Leal afirma que seu gabinete recebeu um telefonema de uma pessoa não identificada reclamando do teor da mostra. A parlamentar conta que conferiu o conteúdo das ilustrações pessoalmente e decidiu retirar as obras da vista do público.
— Não considero que houve censura. Essas ilustrações, como aquela com o Bolsonaro lambendo as botinas do Trump, fosse qual fosse o presidente, seriam desrespeitosas porque tratam do presidente do Brasil. Aqui é uma casa legislativa, com espaço para arte e história. Então, mandei suspender — diz a vereadora.
A presidente da Câmara diz ainda que a descrição do evento e um desenho que foram encaminhados no pedido de utilização do espaço (feito por via eletrônica) não caracterizavam fielmente o espírito da mostra.
— A charge que veio não tinha nada demais, não era ofensiva. Por isso, foi autorizado — diz a vereadora.
Valter Nagelstein (PMDB), via twitter, também criticou o tom dos desenhos: "É um acinte e um crime isso estar aqui. Na sede do PT ficaria bem!". Marcelo Sgarbossa revela que foi pego de surpresa pela supressão do evento:
— A exposição tem questionamentos políticos ao Bolsonaro, sim, mas isso é normal em uma democracia em que se fazem cartuns do Bolsonaro ou do Lula. É censura porque está se impedindo a expressão de uma opinião.
Na tarde desta terça-feira, as obras eram mantidas em um canto da Câmara, acorrentadas e escondidas do público.