Enquanto a orla do Guaíba consolida-se como principal área de lazer de Porto Alegre, o parque mais emblemático da Capital agoniza. Poucos atrativos, equipamentos velhos ou depredados e a sensação de insegurança castigam a Redenção e desanimam frequentadores.
— O parque está abandonado. Equipamentos não recebem manutenção. O bebedouro da academia está estragado desde o ano passado. Vejo que tem funcionários trabalhando, mas podia estar mais limpo — reclamou Marineusa Santos, 58 anos, que frequenta o local diariamente.
Em visita na manhã desta quinta-feira, a reportagem constatou que, apesar de servidores da prefeitura realizarem a manutenção do espaço, mantendo a grama aparada e banheiros em condições de uso, há aparelhos, brinquedos e monumentos com aspecto envelhecido ou depredados. Problema identificado por GaúchaZH no ano passado, o mau estado das lixeiras agravou-se: as avariadas não foram consertadas, e boa parte delas está corroída.
Os atrativos mostram-se cada vez mais escassos. Na manhã desta quinta-feira, os dois quiosques que vendiam lanches estavam fechados. A área dos pedalinhos, equipamentos retirados em maio, estava abandonada. Espaços como o minizoo, o orquidário e o Café do Lago, fechados há anos, seguem sem uso ou são utilizados como abrigo por pessoas em situação de rua.
Embora haja circulação da Brigada Militar a pé e viaturas perto do parque, a sensação de insegurança é evidente. Na manhã em que a reportagem esteve no local, a maior parte dos usuários concentrava-se no eixo central. Todos os entrevistados relataram ter medo de circular em pontos com menor movimento. Veja os principais problemas identificados:
Lixo
As lixeiras estão entre os equipamentos mais avariados da Redenção. Perto do Monumento ao Expedicionário e nos trechos ao longo da Rua José Bonifácio e da Avenida João Pessoa, boa parte dos equipamentos está corroída, com buracos ou simplesmente sem fundo. Nas áreas mais arborizadas, no interior do parque, são escassas. As poucas existentes consistem em tonéis enferrujados. Sobre esse problema, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) informou, em nota, que deverá iniciar um novo contrato de manutenção de mobiliário de praças e parques, que contempla as lixeiras da Redenção. Segundo a pasta, ainda não há cronograma.
Monumentos
Enquanto monumentos do eixo central mostram-se conservados, no interior do parque as estruturas sofrem depredações. Perto do Auditório Araujo Viana, a Homenagem a Beethoven e a Cabeça de Chopin, ambas com partes faltando, ostentam pichações. Mesmo problema afeta os bustos de Annes Dias e Licínio Cardoso, na Avenida João Pessoa.
Pedalinho
Depois da retirada dos equipamentos, em maio, a área de onde partiam os pedalinhos ficou abandonada. Há lixeiras depredadas, e, na manhã desta quinta-feira, um sem-teto dormia no coreto. Em árvores próximas, um casal improvisou um varal para secar roupas enquanto descansava no gramado.
Café do Lago
Abandonado há anos, a área onde funcionava o Café do Lago virou abrigo para pessoas em situação de rua. Na manhã desta quinta-feira, pelo menos três dormiam sobre colchões e cobertores dentro da estrutura, onde foi improvisado um varal. Não há mais vidros nas janelas.
Parquinhos
Não faltam brinquedos, mas, em todos os parquinhos, há equipamentos com a pintura desgastada. Em pelo menos dois deles, os tubos foram transformados em abrigos por pessoas em situação de rua. Na área próxima ao Mercado Bom Fim, voltada para a Avenida Osvaldo Aranha, há brinquedos enferrujados.
Recanto Oriental
Todos os postes de luz estão sem lâmpadas. Ao redor da imagem de Buda, os pilares estão pichados, e o aspecto é de abandono. Um dos bancos de pedra está caído no chão.
Recanto Europeu
É o mais sujo e abandonado. As colunas estão pichadas, e ao redor delas há lixo no chão. O Chafariz Imperial passa por obras de recuperação, iniciadas em fevereiro.
Calçamento
Embora os passeios estejam aceitáveis na maior parte do parque, a área em frente ao Monumento ao Expedicionário está avariada, com diversos pontos quebrados e pedras soltas.
Comércio
Na manhã de quinta-feira, não havia nenhum comércio no parque. Os ambulantes que, antigamente vendiam pipoca e picolé, não apareceram. Dois quiosques de venda de lanches estavam fechados.
O que diz a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade
"A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) informa que identificou no Parque Farroupilha um local com potencial para ativação. Foi feito um projeto conceitual para potencializar e valorizar o entorno do lago do Parque Farroupilha e agora está sendo estudado o melhor modelo de contrato com a iniciativa privada para viabilizar este projeto ainda este ano. O projeto de revitalização do espaço, denominado Complexo do Lago, contempla qualificação total da área do entorno do lago da Redenção, possibilitando o aproveitamento do parque em todas as suas dimensões.
Pelo estudo, a região do antigo Café do Lago poderá abrigar um embarcadouro para pedalinho ou outro tipo de barco a remo. Na ilha, onde ficavam os pedalinhos, estuda-se a possibilidade de utilização como um coreto para apresentações artísticas. A proposta conceitual para a área do antigo Orquidário, contempla uma pérgola com orquídeas e a possibilidade de construção de 4 módulos de 45 m² ou estrutura única para usos como cafeteria, floricultura e outros. Também se planeja ativar o Recanto Alpino com atividades para crianças.
Neste ano, em parceria com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-RS) e da Associação Sul Riograndense da Construção Civil, a Prefeitura recuperou o Recanto Europeu e o chafariz imperial. Em junho, os cinco playgrounds receberam nova pintura e manutenção.
No final de 2018, foi concluída a obra de instalação de 17 rampas de acesso para pessoas com necessidades especiais no Parque Farroupilha."