Paulo Henrique Faria da Silva, 23 anos, saiu de casa ainda durante a madrugada, por volta das 3h, para buscar emprego, nesta segunda-feira (19). Caminhou a pé do Bairro Jardim Carvalho até a Avenida Júlio de Castilhos, no Centro de Porto Alegre. No trajeto de 10 quilômetros feito em pouco mais três horas, enquanto enfrentava o frio, se concentrava no filho Michel, de dois anos. Tamanha determinação tem um motivo: Paulo está desempregado há oito meses e tem encontrado dificuldade para se recolocar no mercado.
Madrugar foi a estratégia dele e de centenas de outras pessoas que formaram uma fila de duas quadras para um feirão para cadastro de candidatos a 1.498 vagas de emprego no Rio Grande do Sul. O evento estava marcado para iniciar às 9h mas, devido ao frio e à extensa fila – que tomava parte das Avenidas Julio de Castilhos e Chaves Barcellos –, iniciou mais cedo.
O recrutamento é feito pela We Can BR para oportunidades temporárias de final de ano, já a partir do Dia das Crianças, em outubro. Segundo a empresa, as contratações para lojas e supermercados devem se acentuar especialmente a partir de novembro, quando as admissões são feitas já voltadas para vendas de Natal, Ano Novo e voltas às aulas. Neste primeiro momento, os trabalhadores deixaram o currículo para posteriormente serem chamados para as funções.
Mesmo as oportunidades não sendo imediatas, a quantidade de vagas atraiu muita gente:
– Eu aceito a vaga que estiver disponível. Muitas empresas estão exigindo experiência que a gente não tem. Tenho alguns cursos, mas é frustrante procurar e não conseguir. Está cada vez mais difícil, mas hoje fiquei confiante – avalia Paulo, que tem experiência em controle de estoque.
A demora para conseguir uma vaga causa estresse e desalento em muitos trabalhadores. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta segunda pelo IBGE, mais de um quarto (26,2%) dos desempregados procuram trabalho há no mínimo dois anos, o que equivale a 3,347 milhões de pessoas nessa condição.
– A proporção de pessoas à procura de trabalho em períodos mais curtos está diminuindo, mas têm crescido nos mais longos. Parte delas pode ter conseguido emprego, mas outra aumentou seu tempo de procura para os dois anos – avalia a analista da PNAD Contínua, Adriana Beringuy.
Dados do IBGE apontam que o desemprego aumentou no Rio Grande do Sul no segundo trimestre de 2019. A taxa, divulgada pelo órgão no dia 15, ficou em 8,2%. Nos primeiros três meses do ano, havia ficado em 8%. A média nacional é de 12%.
O RS é a terceira posição no ranking nacional de menores índices de desemprego. A estimativa do IBGE aponta que há 505 mil pessoas procurando uma colocação no mercado gaúcho.
Diferentes experiências
Há sete meses procurando uma recolocação no mercado, Katia Beatriz da Silva, 47 anos, tem cursos profissionalizantes de vendas e auxiliar administrativo – atualmente, está fazendo o técnico em segurança do trabalho. Mas ela avalia que a grande quantidade de pessoas procurando uma oportunidade dificulta o cenário:
– Não estou fazendo exigência nenhuma para emprego. É horrível ver as contas chegando e não conseguir pagar. É preciso de uma estrutura familiar muito grande para não entrar em depressão – afirma ela.
Nesta segunda, a moradora do Mathias Velho, em Canoas, saiu de casa às 6h, mas chegou depois do horário pretendido ao feirão, pois seu ônibus quebrou:
– Cheguei aqui às 7h e a fila já estava enorme. É muita gente atrás de emprego.
Com experiência na construção civil, João Carlos Carvalho da Cruz, 58 anos, está disposto a aprender outro ofício. Sem emprego há um ano, ele acredita que sua idade é um fator que o desfavorece diante dos demais candidatos, mas ressalta que tem disposição para se aventurar em funções novas:
– Estou aqui para arriscar e tentar. Não tem frio que me intimide.
Vitória Vinholi, 19 anos, de Cachoeirinha, também acredita que sua idade e a falta de experiência lhe tiram competitividade. Em pouco mais de meio ano procurando emprego, disse que já participou de 10 entrevistas, e só recebeu o retorno de uma.
– É difícil porque a gente gasta um dinheiro que nem temos para ir em busca de emprego e volta sem nada – afirma a jovem.