“Por onde for, plante amor”. Essa é uma das mensagens coladas em folha de papel nas paredes do Centro de Eventos do Beira-Rio, ao lado do Gigantinho, na manhã deste sábado (6). Por volta das 5h, voluntários e equipes da prefeitura de Porto Alegre começaram a chegar ao local para preparar o café da manhã para as pessoas em situação de rua que passaram a madrugada mais fria do ano no Gigantinho.
São dezenas de pessoas mobilizadas, entre servidores da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), voluntários e membros da entidade Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) Brasil. O café da manhã começou a ser servido entre 7h e 8h. Depois da refeição, o local deverá ser desocupado. São servidos sanduíches salgado e doce, café com leite e achocolatado. E quem quiser poderá repetir.
Janna Silveira, 43, servidora da Fasc, chegou ao local ainda na quinta-feira (5) por volta de 16h — saiu à noite para descansar e já retornou às 5h. Segundo ela, há cerca de 120 pessoas dormindo no Gigantinho, mas pelo menos 220 foram atendidas ontem — o local tinha estrutura para abrigar até 300. Os moradores que optaram por não dormir no Gigantinho receberam a janta — sopão —, roupas e cobertores.
—Tem gente que prefere não ficar, diz que tem o seu cantinho. Mas eles recebem ajuda e alimento. Hoje, quem quiser pode chegar para tomar café, mesmo não tendo passado a noite aqui. E o que sobrar será levado a outras regiões da cidade. O que eles mais precisam é de amor — conta a servidora e voluntária, que também atende pessoas no ginásio tesourinha.
Os voluntários que trabalham nesta manhã se dividem em grupos para preparar o café. Alguns cortam o pão, outros colocam os ingredientes.
Por volta de 5h30min, a reportagem encontrou um trio de amigos que chegava um pouco sem saber onde era o local da mobilização. Os três, de idades entre 17 e 18 anos, atenderam a um chamado de uma amiga para ajudar.
—Nos já tínhamos feito outras ações com amigos do colégio e agora viemos aqui voluntariamente. Temos que fazer o que Jesus nos ensinou: parar de olhar para si mesmo e olhar para os outros. E essa é uma oportunidade para ajudar — disse Vinicius Cenci, que estava acompanhado dos amigos Sandara Colto e Robert Paiva.
Ezequiel de Melo, 29, morador de rua desde dos 7 anos, era uma das pessoas que aproveitavam o café da manhã no local.
— Essa época é muito fria, a gente acaba passando mal às vezes. Essa noite foi bom, bem quentinho e o café foi muito bom. Não é sempre — disse.
Leandro Martins da Rosa, 40 anos, disse que um "lugar quentinho" para dormir é um dos principais benefícios do projeto. Rosa, que costuma ficar na Avenida Ipiranga, próximo do planetário, relatou as dificuldades de morar na rua:
— É doloroso o dia a dia. Tem dia que a gente consegue coisa pra comer, tem dia que não. Quando tá calor é mais visível pra falar com pessoas, mas quando tá frio se fecham mais, rua fica mais deserta. Frio dificulta as coisas. Mas esse projeto ajudou muito a gente, comida, coberta, até um lugar quentinho pra dormir. Facilitou nossa vida, do pessoal que mora na rua.
O Gigantinho abriu as portas na sexta-feira. As pessoas dormiram em cobertores organizados no ginásio e receberam janta e vacina da gripe. A prefeitura também fez testes para detectar doenças em quem aceitou.
A iniciativa de abrigar pessoas no Gigantinho foi uma parceria do Inter com a prefeitura, mas contou com a ajuda do Grêmio e de outras entidades. Até a noite passada, o saldo era de 50 mil peças de roupas, 7 toneladas de alimentos, 2 mil cobertores e 3 mil litros de água. As doações que sobraram serão encaminhadas para abrigos da Fasc, da Fundação de Educação e Cultura do Internacional (Feci), aos Cozinheiros do Bem e à Adra Brasil.