Um dos principais cartões-postais de Porto Alegre deve receber em 2019 a maior intervenção desde que foi inaugurado, há 90 anos. Às margens do Guaíba e junto ao trecho renovado da orla, a Usina do Gasômetro terá seu projeto de revitalização — concluído nesta semana — enviado para a Central de Licitações até sexta-feira (7), conforme o diretor do espaço, Luiz Armando Capra Filho. O prédio de 1928 está fechado desde 2017.
— A licitação será lançada ainda em junho, seguramente. Aí, é o prazo para as empresas apresentarem as propostas e, depois, início das obras. A fase mais difícil já passou — afirma Capra, ressaltando que o trabalho em uma construção tombada é complexo.
O custo das intervenções, que inclui mudanças estruturais e colocação de mobiliário, é de R$ 15,5 milhões: R$ 13 milhões para o prédio e outros R$ 2,5 milhões para a compra de equipamentos do Teatro Elis Regina e da sala de cinema PF Gastal. R$ 10 milhões vêm de empréstimo junto à Corporação Andina de Fomento (CAF) — para conseguir o repasse total, a prefeitura precisa garantir que a obra seja finalizada até 2020 ou negociar uma prorrogação de contrato. O restante virá do orçamento do Executivo. Em um cenário favorável, cumprindo os três meses para concorrência, a obra começaria em setembro.
Elaborado pela empresa 3C Arquitetura e Urbanismo, o projeto recebeu suas últimas alterações visando a aprovação do Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI).
Restaurante, teatro e cinema
Com a reforma, a experiência de visitação será alterada. A porta principal será levada para a lateral do prédio voltada à orla. De acordo com o arquiteto Luis Merino Xavier, fiscal do projeto na prefeitura, a desativação da entrada na Avenida Presidente João Goulart tem intenção de criar um novo sentido aos espaços e exposições:
— Antes, a sensação era de que o espaço (de cerca de 9 mil metros quadrados) deixava o usuário sem orientação. As pessoas se perdiam. Esse novo acesso vai permitir que o público da orla, que já está lá curtindo os espaços, possa aproveitar quase que de forma imediata a Usina.
O cinema mudará de lugar: deixa o terceiro andar e vai para o térreo, abaixo do teatro. A alteração foi realizada por orientação das equipes de segurança, pois facilita a evacuação em emergências. Os dois espaços ganharão equipamentos modernos, mas manterão a essência de exibição de espetáculos experimentais e filmes de mostras, sem a preocupação de seguir a linha das superproduções.
Haverá, ainda, duas novas escadas, uma voltada para os trilhos do aeromóvel e outra que dará acesso ao terraço, reforçando a ideia de independência dessa área.
— O acesso mais no fundo vai permitir que cinema, teatro e restaurante funcionem à parte. A usina poderá ser fechada para a montagem de alguma exposição enquanto outros locais seguirão abertos — acrescenta Xavier.
A ideia é que, com as operações comerciais, a Usina se torne financeiramente sustentável.
Local está sem visitantes desde 2017
A Secretaria Municipal da Cultura mantém na Usina, fechada ao público há 20 meses, dois seguranças em turnos intercalados e uma equipe de limpeza quinzenal. Para quem acessa o prédio, a poeira no chão denuncia a rotina dos testes na estrutura, atestada por engenheiros como sólida. Poças de água se formaram pelo excesso de chuvas das últimas semanas.
O terraço é a área com menos cuidados aparentes: parte será derrubada para reconstrução da laje, que servirá de teto para o teatro e base para o restaurante com vista panorâmica.
— O público vai ficar em mesas e cadeiras, com uma visão privilegiada do Guaíba. Nessa parte, que foi interditada pelos bombeiros antes mesmo do fechamento, é onde será feita a obra mais pesada — explica Capra.
Com a chaminé de um lado e a orla de outro, o ponto mais alto convive com pichações espalhadas pelas desbotadas paredes. Da varanda, podem ser admiradas as embarcações atracadas, a espera de turistas.
Próximo à antiga sala de cinema, a roleta e a bilheteria estão abandonadas, prestes a serem descartadas. As divisórias dos camarins seguem em pé, mas virarão sucata com os demais equipamentos defasados. Imagens históricas em preto e branco sobrevivem próximo às velhas caldeiras.