Retirados de um imóvel da prefeitura de Porto Alegre no bairro Menino Deus, em reintegração de posse nesta sexta-feira (7), sete adultos e seis crianças dormirão esta noite na rua. Eles não chegaram em um acordo com o Executivo para ficar em um albergue da Capital.
O impasse ocorre, principalmente, porque as famílias não querem se separar. A prefeitura ofereceu levar mulheres e crianças para um local, e os homens para outro. Eles poderiam ficar nos albergues entre as 19h e as 7h.
Pai solteiro de cinco filhos, Fábio Polycarpo, 39 anos, disse que não vai deixar as crianças sozinhas.
— Não vou para albergue ficar longe dos meus filhos de jeito nenhum. Eles têm boas notas na escola. Se eu levar para área de tráfico, vou perder meus filhos.
Polycarpo também argumentou que trabalha como vigilante durante a noite, o que impediria sua entrada no abrigo após o turno de trabalho.
Do outro lado da rua do prédio que ocupavam, uma barraca foi improvisada para abrigar as crianças.
— Vamos torcer para não chover — disse o vigilante.
Entre os adultos que estão no local, está uma mulher grávida de sete meses, que não quis ficar distante do marido. O casal conseguiu um local para deixar seus pertences, mas dormirá na rua.
A desempregada Luma de Oliveira dos Santos, 28 anos, também vai ficar acampada na calçada com sua filha.
— Cozinhar ainda dá até pra fazer. Agora tomar banho, como nós vamos fazer? E para ir no banheiro? Não era o ideal, mas ali era bem melhor, a gente estava bem instalado.
Antes de ir para a ocupação, a mulher estava morando em um apartamento no bairro Azenha. No entanto, desempregada há um ano por não ter creche para levar a filha, disse que atrasou o aluguel e foi despejada.
— A gente estava ali porque não temos para onde ir — lamentou.
Por haver crianças envolvidas, o Conselho Tutelar foi acionado e está monitorando a situação. A conselheira tutelar Lúcia Sant'Anna afirma que pediu à Justiça a prorrogação de mais 30 dias para remoção das famílias, o que foi negado.
A prefeitura disse que a desocupação do prédio era necessária por causa do risco de desabamento do edifício devido a um incêndio, que ocorreu antes das famílias se mudarem para o local.
Para evitar o retorno dos antigos moradores, as entradas do prédio foram lacradas.
Contraponto
Segundo a procuradora-chefe de Patrimônio e Domínio Público da Capital, Cristiane Catarina, abrigos foram oferecidos a todas as famílias, mas algumas se recusaram a ir para o local. Sobre a situação de Polycarpo, ela afirma que foi oferecido um local para ele permanecer com os filhos, o que foi rejeitado.
Assim como outras três famílias, ele se cadastrou para receber o auxílio-moradia da prefeitura. Em 30 dias, eles terão o valor para poder pagar o aluguel de uma residência.
O que diz a prefeitura
A prefeitura divulgou uma nota antes da reintegração de posse, informando sobre a ação.
"Está agendada para esta manhã, 07, a desocupação do imóvel do Município localizado na rua Baronesa (sic) do Gravataí, bairro Menino Deus. O prédio apresenta risco de desabamento. As famílias, que ocuparam o local no final de março, receberam oferta de auxílio moradia e abrigagem.
O imóvel, que anteriormente havia sido cedido à Brigada Militar, sofreu um incêndio em março deste ano e, posteriormente, foi ocupado, o que levou a Procuradoria-Geral do Município (PGM) a ajuizar ação de reintegração de posse. O cumprimento do mandado de reintegração de posse estava previsto para a semana anterior, mas foi suspenso por decisão da Brigada Militar, que alegou motivos de segurança."