Três décadas atrás, no número 201 da Avenida da Azenha, porto-alegrenses se sentiam velozes como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet ou Ayrton Senna. A mágica acontecia na loja de brinquedos Hobby, que tinha como carro-chefe o modelismo – vendia trens, aviões, barcos e, principalmente, carros em miniatura. À disposição do público (de crianças a adultos), uma pista de 15 metros de extensão e com curvas inclinadas que chegava a reunir mais de 50 competidores em campeonatos de autorama.
O responsável por popularizar essa brincadeira na Capital foi Nodemy Ceroni Nunes, mais conhecido como Seu Nunes, que morreu em 2015, aos 91 anos. Ele abriu a primeira loja Hobby em 1966, na Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre.
Alexandros Nicolaidis, hoje com 71 anos, entrou como sócio algum tempo depois. Iniciou trabalhando como caixa para o então sogro, emprego que conseguiu com a justificativa de estar precisando de dinheiro para comprar um presente para a filha do mesmo.
Vinte e três anos após o fechamento da empresa – por impactos da crise durante o governo Collor e, principalmente, por dificuldades de importação de peças –, Nicolaidis ainda recebe cumprimentos na rua de pessoas animadas com o reencontro, mas pena para reconhecer os antigos clientes.
– Mas agora tu tem barba, bigode... – justifica ao esbarrar com órfãos da Hobby.
Além de cuidar do financeiro da empresa, Nicolaidis era responsável por dar as largadas das competições. Incomodava-se apenas com as avós que iam assistir e ficavam atrás dele "buzinando" ("tá prejudicando meu neto", bradavam).
Ele sempre definiu a Hobby como uma grande família. Lembra que sabiam os horários escolares dos garotos que frequentavam e chegavam a ligar para os pais para checar se não estavam matando aula.
– A gente cuidava da gurizada – conta.
O empresário Antonio Carlos Trindade Peres, 65 anos, conhecido como Toninho, era um dos que tentava matar aula no Julinho (Colégio Júlio de Castilhos) para praticar autorama. Gastava as mesadas com carrinhos.
– E ficava devendo – revela, sem deixar de achar graça.
Ele era criança quando começou a acelerar um fusquinha da Estrela na Hobby do Centro. Mais tarde, chegaria a praticar autorama com a esposa grávida e, após, com dois dos seus filhos na pista da loja da Azenha.
O consultor gastronômico e empresário Colman Knijnik, 49 anos, também entra em um estado de "nostalgia total" ao lembrar da Hobby. E conta que não tinha só gurizada nas lojas da marca: o modelismo também atraia adultos aficionados.
– Era um negócio fora de série e para todas as idades.