Não é para principiantes o passeio anunciado por Karina Friedrich, 49 anos, no Airbnb. Moradora do Lami, no extremo-sul de Porto Alegre, ela ambicionava uma companhia para cavalgadas na rua quando resolveu colocar a experiência na plataforma.
— Queria alguém para andar comigo, mas, como é na rua, onde tem trânsito, a pessoa precisa ter experiência com equitação — explicou-me, deixando claro que eu e minha imperícia seríamos uma exceção.
O critério tem se mostrado empecilho para seu objetivo. Até agora, apenas uma pessoa, uma turista espanhola, cumpriu os requisitos do passeio — conta que surgiram casais e grupos aptos, mas, como a experiência é individual, acabaram declinando.
Apaixonada por equinos desde a infância, tem hoje dois cavalos: Cavalo de Fogo e Helena de Troia. De temperamento mais obediente, apesar de "falar demais", segundo a dona, a égua é a única emprestada para o passeio pela região.
Fomos apresentadas rapidamente antes de irmos para a rua — eu no lombo de Helena e Karina a pé, por segurança. Moradora do Lami há cerca de um ano, a veterinária já desbravou pelo menos oito rotas de diferentes níveis de dificuldades nas proximidades da Estrada São Caetano, onde fica a hotelaria onde vive com os animais atualmente. Do tipo que não perde a piada, escolheu para mim o trajeto "subzero", curto e sem grandes subidas e descidas. Em resumo, bom para amadores.
Apesar de passar por vias com fluxo de veículos, o passeio de pouco mais de dois quilômetros transcorreu sem contratempos. De brinde veio o senso de humor de Karina, que cantarolou, apresentou-me uma flor comestível na beira da estrada — tive de experimentar — e apontou diversos "conjuntos habitacionais" de caturritas no topo das árvores. Improvisou ainda uma narrativa sinistra para o trecho em que os galhos cobrem a passagem, formando uma espécie de túnel, e mostrou uma peculiar empolgação com um punhado de fezes encontradas no meio do caminho.
— São de bicho do mato, vocês já tinham visto? Tu devias tirar uma foto — sugeriu ao fotógrafo, sorridente.
Helena, que claramente não reconheceu autoridade alguma na amazona de ocasião, andou devagar a maior parte do trajeto, interrompido por meia dúzia de vezes para "lanchinhos" — plantas aparentemente irresistíveis que mastigava feito chiclete. Segundo o app que Karina usa para monitorar a atividade, trotamos por cerca de 50 metros, e perdi, somente na volta, pouco mais de 200 calorias. Despedi-me de Helena com um abraço e um petisco, como orientado por sua dona, que, até a publicação da reportagem, seguia à espera de uma parceria para um passeio conjunto.
O valor cobrado pela experiência, por pessoa, é de R$ 70.