
Enquanto aguardávamos por Alex Diluglio, nome artístico do canoense Alex Todeschini, 43 anos, o fotógrafo Mateus Bruxel perguntou, com ar preocupado:
— Quer que eu te avise das coisas? Assim, se ele te fizer comer cebola como se fosse maçã?
Seria desnecessário, mas, para quem assistiu aos programas de auditório em que a hipnose virou atração na década de 1990, a dúvida era pertinente. Dormir em pé, comer uma coisa pensando ser outra, molhar-se achando estar seco, entre outras ações um tanto patéticas — das quais os hipnotizados não recordavam depois — eram praxe nas apresentações televisivas.
Não à toa, desde que a experiência Realidade Virtual Através da Hipnose entrou no Airbnb, no começo do ano, fui a primeira a comparecer a um encontro com o gerente de projetos que mora em Porto Alegre e estuda o tema há cerca de três anos.
— As pessoas mandam muita mensagem. Vejo que têm curiosidade, mas, pelas perguntas, acho que têm medo. Não é uma batalha. Ninguém quer dominar a mente de ninguém — brinca Alex, que acha que os programas de TV "difamaram" a hipnose.
Segundo ele, consentimento e uma boa dose de confiança são pré-requisitos para que a atividade, também chamada de "hipnose de entretenimento", dê certo. Ele defende que, na verdade, o que ocorre é uma espécie de auto hipnose — o seu cérebro aceita ou não o que é sugerido pelo hipnólogo —, e que não há perigo de a pessoa "não voltar", porque não vai a lugar algum. Ufa. Convencida pelos argumentos preliminares, topei viver meu primeiro transe guiado.
Em plena orla do Guaíba, diante de espectadores aparentemente desinteressados, ele pediu-me que cruzasse as mãos. Com os indicadores paralelos em riste, deveria visualizá-los como dois ímãs, que se uniam toda vez que os afastava. Obedeci, e pouco a pouco os dedos de fato começaram a comportar-se de forma magnética, convergindo para dentro.
Subimos de nível: mirando um ponto fixo em minhas mãos entrelaçadas, tinha de imaginar uma cola tomando conta delas a medida que contava até cinco. Ao final, assim como ocorria na TV, elas estariam grudadas. Paguei para ver, e o resultado foi dois a zero para Alex, que aproveitou para jogar o grude imaginário nos meus pés, deixando-os presos ao chão — antes disso, "descolou" minhas mãos, fazendo um movimento de arco sobre elas. A sequência rápida mostrou-se eficaz, e, não satisfeito, ele "capturou" minha voz — como quem puxa algo do ar — e guardou-a na bolsa do fotógrafo. Inesperadamente, tive a sensação de que falar não era mais uma possibilidade.
Felizmente não precisei me preocupar em ficar para sempre muda, plantada à beira do Guaíba. Após alguns segundos, em literalmente um estalo de dedos, minha voz estava de volta e meus pés soltavam-se do chão como de costume. Também mostrei-me suscetível aos balões fictícios que prendeu ao meu polegar direito e ao pesado livro imaginário que recebi na mão esquerda. Quando abri os olhos, tinha um braço para cima, "puxado pelos balões", e outro para baixo, tentando sustentar o tal livro.
Os passos seguintes não foram tão bem-sucedidos para meu hipnotizador. Não aderi à minha nova identidade — um nome que, de olhos fechados, pediu-me que escrevesse em um quadro — nem esqueci do número que tentou "apagar" da minha mente. Tampouco me incomodei com um suposto enxame de mosquitos. Nessas situações, avaliou, meu lado de "jornalista racional" se sobrepôs e frustrei a brincadeira. Aparentemente, como prometido, não fiquei presa em nenhuma jaula do subconsciente.
O valor cobrado pela experiência, por pessoa, é de R$ 60.