Quando tinha 18 anos, em busca de um caminho profissional, o estudante Fernando Kaercher Pacheco, de Gravataí, hoje com 21, decidiu empreender. Mas fora dos padrões tradicionais. Após um primeiro emprego frustrado, com o dinheiro da rescisão, ele encomendou pela internet uma roupa sob medida do personagem Deadpool – visto como anti-herói, mas, ao mesmo tempo, altruísta e bem-humorado – e decidiu que a usaria para trabalhar.
A primeira ideia foi vender trufas pelo centro de Gravataí usando a fantasia. Não deu certo. Fernando não se saiu bem na fabricação dos doces. Depois, ao lembrar que o pai, Waltuir Pacheco, 56 anos, sabia fazer pão, pediu a ele que fizesse alguns para vender. Com cinco pães e mais alguns quindins que comprou de uma vizinha, foi para o centro da cidade trabalhar.
– Quando cheguei lá, sentei num banco e fiquei imóvel por três horas. Não sabia como agir, estava com vergonha – lembra.
Mas, naquele dia, um desconhecido chegou perto e perguntou o que o rapaz fazia ali sentado. Fernando falou que estava vendendo os produtos. O homem foi ao banco, sacou dinheiro e levou para casa todos os pães e metade dos quindins:
– Eu nunca mais vi essa pessoa, mas ela foi determinante na minha vida. Pois percebi que aquilo poderia dar certo.
Com o pai, Fernando aprendeu a preparar os pães. Trabalhava durante o dia, estudava à noite e fazia os produtos na madrugada. Dormia entre uma fornada e outra, a cada 40 minutos, quando a massa atingia o ponto certo. No dia seguinte, colocava os pães que tinha produzido em uma cesta e saía a pé para comercializá-los. O tempo foi passando e a clientela crescendo. As pessoas tinham curiosidade de saber quem era o cara por trás da fantasia e começaram a comentar. Fernando usou a visibilidade em benefício próprio e de terceiros.
As pessoas costumam doar, mas, muitas vezes, nem sabem para onde esse alimento vai. Eu comecei a mostrar para onde ia.
FERNANDO KAERCHER PACHECO
– Resolvi destinar parte da minha renda para ajudar as pessoas. Também comecei a arrecadar alimentos e a doar para famílias carentes. Na primeira vez que pedi, muita gente já ajudou. As pessoas costumam doar, mas, muitas vezes, nem sabem para onde esse alimento vai. Eu comecei a mostrar quem precisava e para onde ia – explica.
Com a ajuda de várias pessoas chegando, ele conseguiu comprar cilindro de oxigênio, cadeira de rodas, cama hospitalar, entre outros equipamentos, para pessoas que nunca teriam condições de adquiri-los. A partir daí, outras demandas foram surgindo e o Deadpool gravataiense se tornou um interlocutor entre quem quer doar e quem precisa da doação. Até hoje os pedidos e doações são divulgados pelo Facebook "Fernando Pacheco Deadpool".
Passados quatro anos, quase formado em Educação Física, Fernando segue vestindo a fantasia de Deadpool para vender os pães, de terça a sexta. O acúmulo de funções fez com que ele diminuísse um pouco o ritmo. Da produção inicial, com 50 pães, agora fabrica metade. Uma parte do que ganha é usada na compra de cestas básicas. No triciclo equipado com sistema de som, ele passa de bairro em bairro vendendo o produto. Não importa se faz calor ou frio, a fantasia, a mesma de quatro anos atrás, segue como fiel companheira.
Aos sábados, mantém o projeto Deadpool Gravataí FC, por meio do qual jogadores doam dois ou mais quilos de alimentos para serem repassados a pessoas necessitadas. Aos domingos, a tarefa do jovem visionário é outra: salvar vidas, como socorrista voluntário.
— Me sinto uma pessoa de sorte, pois tudo o que me propus a fazer deu certo. Aonde vou, recebo o carinho das pessoas — declara.
E quem pensa que os planos do garoto param por aí engana-se. Os projetos seguem. O sonho é abrir um restaurante e, assim como é feito hoje, reverter 25% do lucro para ações sociais da cidade.