Além da estratégia do governo Marchezan de promover uma dança das cadeiras para garantir a vitória no projeto que revisa o IPTU de Porto Alegre, as sessões que se sucederam na Câmara Municipal entre a tarde de segunda-feira (29) e madrugada de terça-feira (30) reservaram algumas surpresas.
A votação do projeto começou a se desenhar no fim de semana. E o nascimento do terceiro filho do prefeito Nelson Marchezan teve papel fundamental. A chegada de Benício Marchezan e a consequente licença paternidade do prefeito fariam com que o vice-prefeito, Gustavo Paim, assumisse o posto. Porém, o vice está de férias, e quem foi chamada ao posto foi a presidente da Câmara, Monica Leal (PP).
— Há uma coincidência muito rara — ironizou Roberto Robaina (PSOL) na tribuna.
Outra surpresa ficou por conta de Valter Nagelstein (MDB), que chegou a publicar nas redes sociais uma foto hospitalizado para exames. A Mesa Diretora anunciou a sua licença até 2 de maio no início da sessão. Mas, às 17h40min, o vereador apareceu de surpresa na Câmara.
— Estamos presenciando um milagre! — cochichou um vereador da oposição.
Nagelstein explicou sua condição de saúde e fez um discurso magoado na tribuna com a pressão que sofrera ao longo do dia, sobretudo de militantes do Novo, a quem chamou de "Simpa ao contrário". Questionado fora da tribuna sobre como votaria, ele se mantinha relutante:
— Minha posição sempre foi contrária ao aumento de impostos. Mas vamos ver primeiramente se a votação vai até o final. No ano passado, o governo retirou o projeto da pauta.
O fato novo fez com que o líder do governo, Mauro Pinheiro (Rede) convocasse uma reunião a portas fechadas com a bancada do MDB para ajustar os ponteiros. Naquele momento, o voto de Mendes Ribeiro (MDB), estremecido com o partido, ainda era uma incógnita. Nadia Gerhard (MDB), que deixara o cargo de secretária de Desenvolvimento Social para reassumir posto de vereadora na votação, se mostrava irritada com o estremecimento da bancada. Cerca de uma hora depois, a reunião terminou com os votos assegurados.
Nagelstein acabou não votando devido à pressão arterial alta. Foi substituído em definitivo no início da madrugada por Lourdes Sprenger, mas publicou em seu Twitter que votaria pelo "sim" caso estivesse apto:
A substituição de Claudio Janta (SD) — que votou contra o projeto em 2017 — surpreendeu a plateia, mas não o governo. Desde o início da tarde, a articulação do Executivo contava tanto com a sua substituição quanto com o voto favorável do seu suplente. No decorrer da sessão, a aposta se confirmou. Janta não compareceu, enviou pedido de licença-médica até 4 de maio e deu lugar a Giovane Byl. Em plena sessão, Byl anunciou a troca do SD pelo PTB e votou a favor, assim como os correligionários.
Uma cena que destoava do dia a dia da Câmara era o fato de as bancadas à esquerda (PSOL, PT e PDT) e o Novo, representado pelo vereador Felipe Camozzato, estarem do mesmo lado: contra projeto de Marchezan. Somente a oposição discursava sobre o projeto, ao menos até o início da votação das emendas, por volta das 20h.
A bancada do PP votou dividida: Ricardo Gomes (PP) e Cassiá Carpes (PP) votariam contra o projeto, enquanto João Carlos Nedel (PP) era favorável. Na condição de prefeita em exercício, Mônica Leal (PP), que já fizera críticas ao projeto em anos anteriores, foi substituída pelo vice-líder do governo, Moisés Barboza (PSDB), favorável ao projeto.
A base governista ainda foi reforçada pelos secretários Comandante Nádia (MDB), Luciano Marcantonio (PTB) e Ramiro Rosário (PSDB). Vitaminada pelo ingresso recente do MDB em sua base, a prefeitura contabilizou 20 votos seguros para aprovação do projeto, mas estimava um placar entre 23 e 24 votos. Encerrou aprovando o texto por 22 votos a 14.