O Ministério Público (MP) investiga quase 100 taxistas de Porto Alegre que apresentaram exames toxicológicos falsos, indicando que não seriam usuários de drogas. Desde o ano passado, a Capital exige os laudos.
A prefeitura descobriu a fraude ao perceber inconsistências no preenchimento dos laudos de 98 taxistas. O caso começou a ser apurado após denúncias de que haveria um comércio de exames em pontos de táxi de Porto Alegre.
– Recebemos denúncias por telefone e pessoalmente, de maneira informal, que existia um oferecimento nos pontos de táxi. Um cidadão passava, inclusive num táxi, dirigindo, com uma malinha, oferecendo os laudos em branco, com a identificação do condutor em branco. E, informação que nos chegou, (custando) em média R$ 400 cada laudo – diz Felipe Fraga Sias, agente de fiscalização e coordenador do cadastro de operadores.
Foram identificadas pelo menos duas formas de falsificação. Em algumas situações, o resultado positivo para drogas como cocaína e crack era simplesmente adulterado para negativo. Mas, na maioria dos casos, os motoristas investigados usavam as informações de exames de taxistas que deram negativo, e adulteravam o documento entregue à prefeitura. O Ministério Público investiga o esquema.
– Eles fizeram cópias desse exame, alterando unicamente os dados do motorista e a cor do pelo. O exame original era de um senhor grisalho, para que não ficasse todos os exames como se fossem oriundos de uma pessoa grisalha, quando as pessoas não eram, também era alterada a cor do pelo – diz Flávio Duarte, promotor de justiça.
A reportagem localizou o taxista vítima da falsificação. Ele, que não será identificado, não sabe como os colegas investigados tiveram acesso ao laudo dele.
– Uma surpresa e uma sujeira muito grande dos próprios colegas que copiaram o meu laudo – afirmou.
A prefeitura vai abrir processo que pode cassar as licenças dos taxistas. Neste domingo (21), o Fantástico revelou o comércio de laudos toxicológicos para motoristas profissionais em todo o Brasil. Uma investigação do Ministério Público de Santa Catarina descobriu que quase 300 caminhoneiros de quatro Estados compraram laudos adulterados em Criciúma.
No Rio de Janeiro, flagramos a funcionária de uma clínica oferecendo os laudos. Em São Paulo, os golpistas agem na porta do Detran, e quando descobertos por nossa equipe, saem correndo.
– Quando uma pessoa está sob efeito de cocaína, por exemplo, na direção, ou de anfetaminas, as reações dela serão rápidas demais. Ela não vai pensar, ela vai agir antes de pensar. E todas essas coisas são importantes quando tu estás lidando com um automóvel ou um caminhão ou um carro profissional numa via com outros veículos. Todos esses tempos de reação ficam modificados – diz Flávio Pechansky, psiquiatra, diretor do Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.