Um grupo de WhatsApp administrado por assessores e pessoas ligadas ao vereador Wambert Di Lorenzo (PROS) está sendo investigado pela Polícia Civil. De acordo com o inquérito, existem postagens relacionadas à divulgação de informações sobre operações da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e órgãos da Segurança Pública — o que é proibido por lei —, além de incitações de agressões contra agentes de trânsito e depredações de radares móveis. A reportagem teve acesso a mensagens publicadas.
Intitulado "De olho na EPTC", o grupo tem cerca de 90 participantes, entre as quais o próprio Wambert. Em várias ocasiões, assessores do vereador postam discursos do parlamentar na Câmara e orientam pessoas a procurarem o gabinete dele para buscar recursos de multas de trânsito e receber orientações de como proceder caso sejam punidos. O político tem entre suas bandeiras a ideia de extinguir a EPTC.
As mensagens com conteúdo agressivo chamam a atenção. Em uma delas, um dos participantes divulgou reportagem sobre um caso envolvendo agente da EPTC agredido em frente à Estação Rodoviária de Porto Alegre, em dezembro de 2018. Em seguida, a mesma pessoa comenta: "Deveria ter matado".
Há também a postagem de um vídeo mostrando um agente de trânsito sendo agredido em alguma cidade do país não identificada e, em seguida, o seguinte comentário de um participante: "Hoje é dia de dar voadora em agente da EPTC".
Em outra ocasião, um usuário reclama que foi multado duas vezes por trocar de faixa sem dar sinal de alerta, o que é considerado infração no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Em seguida, ele fala: "Se eu encontro um cara da EPTC, eu a pé dou um empurrão nele, jogo no meio da rua, pra ele ser atropelado por um carro".
Em outra publicação, usuários comentam sobre a possibilidade de roubarem radares de trânsito. Um deles cita: "Os nóias podem arrumar dinheiro fácil roubando esses radares. Aqueles radares valem uma fortuna". Outro integrante do grupo comenta: "Tem que chegar na voadeira e tomar o radar deles".
Avisar sobre blitz é crime previsto no Código Penal
Em várias mensagens de áudio, em dias diferentes, um assessor do vereador enviou, entre outras, as seguintes mensagens: "Radar na avenida Ipiranga, sentido bairro/centro, um pouco antes da CEEE", "Balada Segura em frente à Redenção".
Um participante informou sobre outra ação de fiscalização e orientou quem consumiu bebida alcoólica a evitar a região: "Avenida do Forte, blitz, Balada Segura ali, então, se alguém tomou algum 'traguinho' a mais, tenta desviar dali...".
A lei estabelece que avisos sobre blitzes são considerados "atentados contra a segurança", crime previsto do artigo 265 do Código Penal, cuja pena é prisão de um a cinco anos e multa.
A Polícia Civil informou que já está colhendo depoimentos de participantes do grupo e pretende concluir o inquérito até o final deste mês.
– Estamos analisando todas as postagens e chamando pessoas para prestar depoimento para esclarecer. É preciso verificar a mensagem e o contexto. Está sendo apurado se, por ventura, houve apologia ao crime, dano moral ou pessoal a algum agente de trânsito e alguma eventual conduta inadequada contra a EPTC e os órgãos policiais – disse o delegado Marco Antonio Duarte de Souza, titular do Setor de Investigações da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil.
Vereador diz que objetivo do grupo é apenas fiscalizar a EPTC
Procurado, o vereador Wambert Di Lorenzo alegou que o grupo tem apenas o objetivo de fiscalizar os trabalhos da EPTC.
– Esse grupo não tem objetivo de ficar anunciando onde tem blitz, pois a gente não quer atrapalhar a segurança pública e o trabalho da polícia. Quem faz isso está errando. Nós temos que seguir firmes, fiscalizando a EPTC. Esse é o nosso objetivo – disse.
A equipe do vereador informou que no fim do ano passado solicitou informações para a EPTC sobre vários itens, entre eles, onde e como o valor das autuações é aplicado em Porto Alegre. Por esse motivo, várias mensagens são postadas incentivando as pessoas a procurarem o gabinete do parlamentar. O objetivo é verificar se as informações das multas sofridas pelos motoristas estão de acordo com as explicações repassadas pela EPTC após a solicitação.
Homem já foi preso na Serra por divulgar operação por Whatsapp
Embora não seja tão comum, já há casos de prisões no Rio Grande do Sul por conta de divulgação de operações policiais através de Whatsapp. No começo deste mês, em Canela, na serra gaúcha, um homem de 20 anos foi detido pela Brigada Militar após divulgar o local em que ocorriam barreiras policiais.
A abordagem ocorreu depois que os policiais notaram que o rapaz estava parado, com um celular em mãos, filmando e fotografando a guarnição e a viatura. Questionado sobre o ato, segundo a BM, ele mostrou vídeo e áudios enviados para um grupo de WhatsApp, em que divulgava as operações.