Aos gritos de “STF, presta atenção, tua toga vai virar pano de chão”, manifestantes favoráveis à Operação Lava-Jato voltaram a protestar no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, em Porto Alegre. Convocado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e organizado pelas redes sociais, o ato ocorreu na tarde deste domingo, na esquina da Avenida Goethe com a Rua Mostardeiro, e em cidades de pelo menos outros 20 Estados.
O foco do protesto – realizado no dia em que a Lava-Jato completa cinco anos – é o Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte decidiu, na semana passada, que todos os crimes ligados a caixa 2 devem ser julgados pela Justiça Eleitoral. A decisão saiu na última quinta-feira, em julgamento polêmico e com placar apertado. A partir de agora, processos envolvendo crimes eleitorais e conexos – como corrupção – não poderão mais ser analisados pela Justiça comum. A medida, que atinge casos da Lava-Jato, é alvo de críticas de procuradores que atuam na força-tarefa. Para eles, a mudança pode significar o fim da operação.
Neste domingo, apesar da chuva e do Gre-Nal, dezenas de pessoas compareceram à Goethe entre as 15h e 18h, vestidas de verde amarelo, com bandeiras do Brasil, apitos, cornetas de plástico e instrumentos de percussão.
Dessa vez, a Banda Loka Liberal, que costumava agitar a turma em atos semelhantes – realizados até o ano passado, contra o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – não apareceu. Também não houve caminhão de som. O grupo permaneceu às margens da Goethe, ocupando a avenida apenas quando o sinal fechava. Não chegou a haver bloqueios no trânsito – a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) monitorou o ato, que não teve incidentes.
Entre os presentes, a aposentada Jussara Senna, 79 anos, segurava uma cartolina com a seguinte frase, em letras garrafais: “Contra o golpe do STF na Lava-Jato”.
— Estão tentando acabar com o trabalho da Lava-Jato, mas não vão conseguir. Nós não vamos deixar — disse Jussara.
A opinião era compartilhada por outros manifestantes, entre eles a aposentada Maria Olívia Antunes de Rezende, 59:
— Os políticos estão vibrando com essa decisão do STF. É inaceitável.
Além de criticar a Corte, os participantes do ato defenderam a aprovação do pacote anti-crime, apresentado ao Congresso pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
— A proposta de Moro pode neutralizar o estrago. A decisão do STF é contrária aos interesses da Nação, que luta pelo fim da corrupção. Estamos sendo feitos de palhaços outra vez. A Justiça Eleitoral não tem estrutura para julgar todos esses casos. O que vai acontecer é que vai levar o dobro de tempo e muitos casos poderão, inclusive, prescrever — alertou a advogada Carmen Petry, 58.
Para a manifestante Simone Dias Kindlein, 55 anos, Moro precisa ser ouvido.
— É necessário para neutralizar o golpe do STF na Lava-Jato — declarou.
O ato contou com um boneco do ministro Dias Toffoli, um dos alvos da insatisfação. O manequim vestido de preto foi jogado no chão, sob aplausos, inúmeros vezes. Também havia uma gaiola no local, onde foram colocados ratos, cobras e um sapo de brinquedo, representando o ministro Gilmar Mendes, outro magistrado bastante criticado.
Motoristas que passavam pelo local gritavam a favor do manifesto e buzinavam o tempo todo, prestigiando o ato. As críticas foram pontuais. Alguns condutores gritaram "fora Bolsonaro", em referência ao presidente Jair Bolsonaro. De um carro, um homem bradou o bordão “Lula Livre”, pela liberação do ex-presidente da cadeia, em Curitiba. Como resposta, ouviu:
— Sai daqui, palhaço! Vai procurar tua turma.
No fim da tarde, voltou a chover no local, e o ato se dispersou.