No ano em que as escolas de samba atravessaram o Porto Seco enfrentando a maior escassez de recursos da história do Carnaval de Porto Alegre, a Imperadores do Samba foi a grande vencedora na competição entre as agremiações da Série Ouro, conquistando 139,8 pontos. A apuração ocorreu na tarde deste domingo (17). A Estado Maior da Restinga ficou com segundo lugar, com 139,4 pontos, e o Império da Zona Norte, com 132,2 pontos, com a terceira posição.
Foram avaliados sete quesitos: bateria, harmonia, samba-enredo, evolução, tema-enredo, fantasia e mestre sala e porta-bandeira. Nenhuma escola caiu para o série Prata. Desta vez sem troféu, a vencedora comemorou a vitória vibrando entre abraços e o choro dos seus integrantes assim que a última avaliação foi divulgada. A agremiação tirou nota máxima em cinco quesitos e só perdeu um décimo em dois: bateria e samba-enredo. Para o presidente da Imperadores, Érico Leoni, a vitória se deve ao trabalho feito em quadra ao longo do ano:
– Nossa união virou a sinergia que se viu na avenida. Nosso trabalho é pensado no futuro do Carnaval, envolvemos crianças desde cedo. Para nós é assim que se faz Carnaval. Provavelmente somos a única escola que faz todas suas fantasias em Porto Alegre. Não vem nada pronto. Isso é a força da Imperadores. Não tínhamos recursos e fizemos do lixo o luxo que se viu na avenida – destacou, emocionado.
Já na madrugada do domingo, na segunda noite de desfiles no Porto Seco, a campeã cantou na avenida o samba "Imperadores do Samba 60 anos, o Eterno Brilho de Um Diamante Negro". Com um tripé e dois carros alegóricos, a escola contou seus 60 anos de atividade. O resgate dessa história começou na busca pela ancestralidade e nobreza africana que, segundo o diretor de harmonia geral da escola, Cristiano Oliveira, atravessou gerações e, hoje, se manifesta em cada componente que desfila.
– Fizemos um passeio pela historiografia falando de nossas origens cravadas na África, já que nossa escola é oriunda do Areal da Baronesa, bairro com forte presença da população negra, e chegamos até os dias de hoje com a influência também da cultura gaudéria _ explica Oliveira.
E o público aplaudia com vigor e entusiasmo cada componente da Imperadores, tanto que os espectadores seguraram o samba à capela por duas vezes.
– É muita emoção, porque, agora, ficou no Carnaval quem é apaixonado por essa festa. E colocar esta escola na avenida no ano do seu aniversário é muito gratificante. Eu tenho a Imperadores na veia – afirma Oliveira.
Para o diretor-financeiro da União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (Uecgapa), Rodrigo Costa, a lição que se tira deste Carnaval é de que o povo consegue fazer sua própria festa quando quer:
– Quando se arregaça as mangas, dá certo. E mesmo em março, fora de época, as pessoas compareceram. Foi um Carnaval da comunidade. Vamos para 2020 com fôlego imenso.
Quem sobe para a série Ouro
Entre as oito escolas da série Prata, a vencedora foi a Império do Sol, de São Leopoldo, que a partir do ano que vem sobe para o grupo especial. A escola conquistou 139,9 pontos. Para o presidente da agremiação, Aldemiro Jacintho da Silva, o trabalho voluntário de todos os integrantes e a paixão pelo Carnaval levaram a entidade ao retorno à série Ouro – desde 2012 Império do Sol estava na série Prata.
– Fizemos um trabalho de comunidade, de amor pela escola. Todo mundo trabalha junto. Os destaques fazem suas próprias fantasias e, quando terminam, ajudam os outros a terminarem as suas. Essa energia foi levada para dentro da avenida.
Na disputa da série Prata, a Vila Isabel ficou em segundo lugar, com 139,3 pontos, e a Fidalgos e Aristocratas em terceiro, com 139 pontos.
"É possível fazer Carnaval com o esforço das escolas"
Após conquistar o segundo lugar, o presidente da Estado Maior da Restinga, Richard Kniest, afirmou que o ano de 2019 foi um marco para a história do Carnaval de Porto Alegre:
– O exercício que fizemos este ano vem nos mostrar que é possível fazer Carnaval exclusivamente com o esforço das escolas. Foi mais simples do que em outros anos mas foi mais próprio e mais nosso. Não tenho dúvidas de que se esse esforço for mantido, nosso Carnaval só tende a melhorar.
Na avenida, a vice-campeã cantou os mais diversos tipos de realeza desde Maria I, rainha de Portugal, até Pelé, o rei do futebol. Porém, a verdadeira coroação era para a própria escola, destaca o diretor de barracão da agremiação, Robson Machado Dias, o Preto:
– Realizamos uma alusão a todos os reis e encerramos nossa participação com o nosso maior símbolo, o nosso rei, o cisne altaneiro. Por isso, abrimos e finalizamos o desfile com ele.
Os imponentes cisnes foram acompanhados por uma terceira alegoria que remetia aos reis do xadrez. Preto afirma que, devido à falta de arquibancadas no Porto Seco, a parte superior do carro não pôde ser contemplada em sua plenitude pelos jurados e público.
Entre os destaques, as fantasias bem finalizadas e multicoloridas. A bateria foi um show à parte. Ao som dos surdos, cuícas e tamborins, a escola sacudiu os persistentes torcedores que ficaram até o final.