Instituições sujas e alunos sem merenda têm sido situações recorrentes em escolas municipais de Porto Alegre desde a semana passada. Em razão de atrasos no pagamento de salários, funcionários da empresa terceirizada Multiclean que atuam na cozinha e na limpeza de todos os colégios do município e da Secretaria Municipal de Educação (Smed) têm feito paralisações, afetando o funcionamento das instituições.
Conforme apurado pela reportagem, pelo menos seis escolas ficaram sem esses trabalhadores em, no mínimo, um dia desde a semana passada. A prefeitura diz que repassou os valores referentes à segunda quinzena de dezembro nesta segunda-feira (18) e, na sexta-feira (15), já havia depositado recursos referentes a janeiro — uma parte segue pedente, segundo a Smed, aguardando regularização de documentação da empresa.
Diretora da Escola Municipal Especial de Ensino Fundamental (Emeef) Professor Luiz Francisco Lucena Borges, que atende a 110 alunos com transtorno do espectro autista, Carla Wunder da Silva relata que os seis responsáveis pela limpeza e pela cozinha da escola não trabalham desde sexta-feira à tarde. Segundo a diretora, nenhum deles havia sido pago pela Multiclean até a tarde desta segunda-feira.
— Semana passada teve alguns que não vieram porque não tinham dinheiro para vir. Sexta-feira pela manhã vieram dois, e hoje nenhum. Se continuar assim, amanhã não vamos abrir a escola. Temos alunos adultos que usam fraldas. A limpeza da escola não foi feita, os banheiros estão insalubres — conta.
Conforme a diretora da instituição localizada no Jardim Itu-Sabará, a única refeição oferecida aos alunos nesta segunda-feira foi um lanche preparado pela equipe diretiva.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Porto Novo, na Vila Dique, passou por problemas parecidos na sexta-feira, quando nenhum dos 12 terceirizados compareceu ao trabalho.
— Na sexta-feira, as crianças ficaram sem café da manhã, e nós tivemos de fazer a limpeza da escola, com a ajuda dos professores. Estamos do lado de um galpão de reciclagem, com ratos, então precisamos manter a escola limpa — relata Salete Monticelli, diretora da Emef Porto Novo.
Conforme a diretora, os trabalhadores retomaram as atividades nesta segunda-feira, mas duas funcionárias da cozinha ainda estariam com os vencimentos atrasados. O problema, segundo Salete, é recorrente.
Na Emef José Mariano Beck, no bairro Bom Jesus, mais de 10 terceirizados não foram trabalhar nesta segunda-feira. A direção da escola confirmou que a instituição teve serviços afetados pela paralisação, mas não quis comentar o assunto.
Ao todo, 964 funcionários vinculados à terceirizada prestam serviços para a prefeitura. A Smed não soube informar quantos teriam paralisado as atividades. Procurada por GaúchaZH desde a manhã desta segunda-feira, a empresa Multiclean não atendeu às ligações até a publicação da reportagem.