– Professora, preciso ir tomar água – exclama um dos alunos da turma do 3º ano da Escola Municipal de Ensino Básico Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha.
Enquanto isso, ele se abana com uma das mãos, tentando, em vão, amenizar o calor que se sente dentro da sala de aula, no bairro Sarandi, zona norte da Capital. O pedido por hidratação repete-se nas outras salas da instituição, que atende desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Em pleno calorão de janeiro, as cerca de 60 turmas seguem tendo aula nos três turnos. Para piorar, diversas salas não têm ventiladores ou estão com o equipamento funcionando parcialmente.
– Algumas crianças até trazem garrafinha com água de casa, mas outras não. Além disso, quando bate o sol nas janelas, a gente sua demais – conta Daniela Bittencourt, professora de inglês.
Tem mais
Tanto os mestres quanto os alunos ainda vão precisar lidar com o calor até 6 de fevereiro, data marcada para o encerramento do ano letivo na instituição. Em outras escolas, a data de término das aulas varia, segundo a Secretaria Municipal da Educação (Smed). Na Escola Municipal Emilio Meyer, no bairro Medianeira, por exemplo, as aulas de 2018 só terminam no dia 20 do mês que vem.
E, conforme a Smed, em 2020 o cenário não muda. Em razão das greves de 2017 e de 2018, o ano letivo acaba atravessando dezembro e chegando ao início do ano seguinte.
– As aulas de 2019, que ainda não começaram, devem acabar só em 6 de janeiro de 2020 – revela a vice-diretora.
Na tentativa de amenizar a situação, alguns professores tentam fazer atividades mais recreativas, que exigem menos esforço. Além disso, quando possível, os períodos são ministrados no pátio ou no laboratório de informática – único espaço da escola com ar-condicionado.
– O ar-condicionado é pequeno para a sala. Mas, ainda assim, os alunos comemoram quando têm atividades lá – conta professora Daniela.
O pequeno Lucas Machado, oito anos, reclama da situação:
– A gente passa muito calor. Queria que a prefeitura viesse arrumar os ventiladores da sala.
Avó de uma estudante dos anos iniciais, a pensionista Gelci Meireles, 67 anos, conta que já ouviu a criança reclamando do calor nas salas de aula. Porém, ela acha que é correto o período ser recuperado.
– Eu digo para ela levar uma garrafinha de casa. A mãe dela trabalha, então é melhor recuperar as aulas do que ficar em casa – acredita Gelci.
Dificuldades vão além
Nos corredores do colégio Salzano, que tem mais de 60 anos de história, não são apenas os ventiladores que fazem falta. A reportagem encontrou somente um bebedouro na ala visitada. A falta de lâmpadas também chama a atenção, deixando algumas passagens na penumbra.
– Estamos com repasses atrasados. Em alguns meses, não conseguimos nem o básico, como papel higiênico – relata a vice-diretora da instituição, Márcia Alcará.
No setor de apoio pedagógico, os servidores que trabalham no local fizeram uma vaquinha para adquirir um ventilador, já que estava complicado conviver com o calorão dos últimos dias.
Smed promete repasse nos próximos dias
Em nota, a Smed informou que o ano letivo de 2018 somente será encerrado quando todas as turmas de cada escola completarem as 800 horas e 200 dias letivos previstos na Lei de Diretrizes e Bases. O atraso se deve às paralisações realizadas no ano passado, especialmente a greve de quase 40 dias.
Quanto à manutenção, o órgão alega que aumentou, no ano passado, em cerca de 135% o valor dos repasses para as escolas justamente para dar mais autonomia e agilidade para que as direções realizem consertos sem precisar passar pelos processos internos da secretaria. Os repasses já estão autorizados e ocorrerão nos próximos dias, seguindo os trâmites para liberação de recursos.