A mensagem do chefe de cozinha norte-americano foi traduzida simultaneamente para 40 adolescentes na Fundação Pão dos Pobres, que escutavam atentos pelos fones:
— Se vocês acreditarem que pertencem, vocês pertencem.
Em encontro promovido pelo consulado dos Estados Unidos, Jerome Grant, chef executivo do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana do Instituto Smithsonian, conversou com alunos dos cursos de gastronomia e de assistente administrativo da instituição na Capital nesta quarta-feira (27). Apenas a experiência já renderia muito assunto entre os jovens — era a primeira palestra internacional a que assistiam, e o consulado instalou até uma cabine isolada para tradução simultânea dentro do pequeno auditório da fundação. Mas a lição entrou certeira na cabeça deles:
— A história motivou a gente a continuar: ele começou de baixo e conquistou tudo isso. Mostra que tudo é possível — disse Laisla Medeiros, 18 anos, que já prepara bolos em casa, no bairro São José, e tem o sonho de abrir a sua própria confeitaria.
Jerome morou em vários locais dos EUA, incluindo os Estados de Nova York, Oklahoma, Califórnia e Maryland. No condado de Prince George, entrou em contato com os sabores locais da região de Washington. Aprendeu o básico da culinária filipina com sua mãe e os temperos caribenhos da herança jamaicana de seus avós paternos.
Atualmente, ele conta a cultura e a história dos negros americanos no restaurante do museu em Washington DC, a capital norte-americana. Os pratos são organizados geograficamente para destacar receitas tradicionais e autênticas de quatro regiões dos Estados Unidos: sul agrícola, a costa Creole, os Estados do norte e a área oeste, referência pelas montanhas. Grant foi reconhecido como um dos chefs mais promissores de 2018 pela revista Starchefs e, neste ano, foi semifinalista do Prêmio “Melhores Chefs” da Fundação James Beard.
Início complicado e a importância de desenvolver a autoconfiança
Ele contou, durante a palestra, que iniciou na profissão lavando pratos e que seu pai, militar, foi contra sua carreira no começo. Os jovens não pouparam nas perguntas. Questionaram se ele provou chimarrão, que tipo de comida lembra sua casa e, a que mais lhe fez refletir, se alguma vez pensou em desistir da sua escolha.
— Muitas vezes. Críticas ruins afetam muito, você pensa que está levando uma surra. Tive que criar confiança em mim — respondeu Jerome.
Depois da palestra, os adolescentes seguiram o chefe até a cozinha da oficina de gastronomia, onde aprenderam a fazer um tradicional pãozinho norte-americano de buttermilk (líquido que sobra da produção de manteiga). No restaurante do Museu de História e Cultura Afro-Americana, o pão é servido como acompanhamento de frango frito.
A visita de Jerome a Porto Alegre faz parte de uma campanha do consulado norte-americano, que visa a difundir a gastronomia do país e suas influências.
— Queremos trazer os sabores de várias regiões dos EUA, mostrando que a culinária norte-americana não é o que se pensa — diz o representante do consulado, John Jacobs.