Porto Alegre vive a expectativa de receber, do governo federal, R$ 60 milhões necessários para destravar o projeto de construção de um centro de eventos ao lado do Estádio Beira-Rio.
A decisão de liberar o recurso deverá ser tomada pela União nos próximos dias, mas não é a única questão em aberto sobre o empreendimento. A demora para receber o dinheiro, aguardado desde 2013, a dimensão e a localização da iniciativa despertam controvérsia sobre a capacidade que o centro teria para disputar grandes eventos com outras cidades.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Logística e da Associação Comercial de Porto Alegre, Paulo Menzel, afirma os R $ 60 milhões previstos não seriam suficientes para financiar um projeto do tamanho que a Capital precisa.
— Esse é um valor de arrancada. Um centro construído por esse valor, onde está sendo pensado, certamente não terá a dimensão que Porto Alegre necessita — analisa Menzel.
Um dos centros de eventos de grande porte construídos recentemente no país, em Fortaleza (CE), saiu por R$ 486,5 milhões e foi entregue em 2012. Nos seis anos desde que a União acenou com o repasse de R$ 60 milhões a fundo perdido para Porto Alegre por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a inflação já consumiu quase 40% do valor original.
Menzel também acredita que um terreno localizado em uma área maior e mais próxima do aeroporto seria mais adequada para abrigar grandes eventos e feiras. Presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), que apoia a elaboração do projeto na Capital, Henry Chmelnitsky sustenta, porém, que o local previsto é "excelente" e não teria mais como ser questionado por embasar o projeto sob análise federal. Qualquer mudança poderia provocar atrasos ainda maiores na liberação da verba.
— Falta só a decisão política de liberar o dinheiro. Como é um recurso carimbado, não pode ser usado para outra coisa. Por isso, é importante garanti-lo — opina Chmelnitsky.
Com previsão de abrigar 4 mil pessoas no espaço principal, a unidade de 12 mil metros quadrados poderia ser considerada de porte médio, capaz de receber congressos e feiras para consumidores. Isso não permitiria atrair eventos maiores como feiras industriais, mas, segundo estimativa do Porto Alegre & Região Metropolitana Convention & Visitors Bureau (POACVB), já seria suficiente para ampliar, no curto prazo, em pelo menos 20% o número de eventos captados pelo município.
— Por meio das receitas geradas, isso traria o retorno do investimento para a cidade — acredita o presidente do POACVB, Maurício Cavichion.
Uma pesquisa realizada com base em dados de 2015 mostram que, naquele ano, a Capital atraiu 166 eventos de diferentes portes. Isso resultou em um fluxo de turistas de negócios que deixou R$ 125 milhões em Porto Alegre. O secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, afirma que os R$ 60 milhões são suficientes para erguer um centro de convenções capaz de atrair congressos e feiras para o consumidor e incrementar a economia do município:
— Estrategicamente, é disso que Porto Alegre precisa. Se quiséssemos atrair grandes feiras business to business, aí, sim, precisaríamos de algo muito maior. Mas hoje esses eventos estão muito concentrados no Rio e em São Paulo.
O secretário afirma que, quando a obra estiver pronta, deverá ser concedida à iniciativa privada por meio de licitação. Deverá assumir o empreendimento quem oferecer maior valor de outorga (espécie de contrapartida) à prefeitura.
Estados e prefeituras privatizam centros de evento
Em outras capitais, as administrações municipais ou estaduais privatizaram ou planejam conceder a operação dos seus centros de eventos com a intenção de evitar os custos de manutenção e — mesmo quando não dão prejuízo — facilitar futuros investimentos.
Entre os maiores empreendimentos do tipo no Brasil, os centros de São Paulo e de Fortaleza, no Ceará, por exemplo, estão sob processo de concessão à iniciativa privada. Outra unidade de referência no país, o Riocentro, no Rio, já é mantida por um parceiro privado.
Lançado em 2012, o Centro de Eventos do Ceará, um dos maiores e mais modernos do gênero, será incluído em um grande pacote de privatizações elaborado pelo governo estadual, apesar de apresentar boa situação financeira. O empreendimento teve uma receita de R$ 11 milhões no ano passado, 27% superior à de 2017. Conforme a assessoria de comunicação da unidade capaz de abrigar mais de 30 mil pessoas, foi o suficiente para custear todas as despesas. Ainda assim, o local será concedido à iniciativa privada sob expectativa de gerar cerca de R$ 180 milhões para os cofres estaduais e facilitar futuros investimentos e a captação de mais eventos.
Já o centro do Anhembi, em São Paulo, deverá ser privatizado com a empresa responsável por administrá-lo — a SPTuris. O complexo, que inclui centro, pavilhão e o sambódromo paulista, teve prejuízo de R$ 5,7 milhões no terceiro trimestre do ano passado. Conforme a prefeitura de São Paulo, o repasse à iniciativa privada poderia gerar R$ 1 bilhão para os cofres municipais. As propostas de eventuais interessados serão recebidas no mês que vem.
Antiga referência para eventos no país, a falta de manutenção e investimentos deixou o Anhembi com pouca atratividade: pelo menos 17 grandes feiras abandonaram o local até o ano passado e migraram para outras instalações mais modernas.