A sigla #TBT — em inglês, throwback thursday, significa "quinta-feira do regresso" - é usada nas redes sociais para relembrar algo do passado. GaúchaZH aproveita as quintas-feiras para retomar promessas, projetos, obras que ficaram no passado, paradas, atrasadas ou até mesmo que nunca saíram do papel.
Construído em 1983 pelo engenheiro gaúcho Oskar Coester, o aeromóvel que, esporadicamente, circulou próximo à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, pode perder a fama de ligar o nada a lugar algum. Um projeto elaborado pela Aeromóvel Brasil prevê a construção de cafeteria e cervejaria na estrutura que ligava duas estações. Há também a ideia de expandir o traçado de 1.068 metros até outros pontos da região, como o Cais Mauá.
Conforme o diretor-executivo da empresa, Marcus Coester, o estudo de viabilidade econômica será apresentado à prefeitura até março:
— A nova orla demonstra um potencial muito grande para desenvolvimento. O aeromóvel faz parte da história de Porto Alegre e está incorporado à primeira parte da revitalização da área, proposta pelo arquiteto Jaime Lerner.
Pelo projeto, a cafeteria ficaria sobre a estação localizada em frente à Receita Federal, na Avenida Loureiro da Silva, e a cervejaria, ao lado da Usina, com mesas e guarda-sóis no lugar dos trilhos hoje enferrujados. A ligação entre os empreendimentos seria feita pelo aeromóvel.
Marcus Coester afirma que a estrutura está em condições de receber os empreendimentos, mas que um instituto independente será contratado para fazer uma avaliação estrutural.
— A obra civil está em perfeito estado para uso, mas precisamos comprar um novo veículo — diz.
Um novo veículo, mais moderno do que o responsável por ligar o aeroporto ao trensurb, está sendo construído na Marcopolo, em Caxias do Sul. Apesar de o velho trem ainda estar sobre a estrutura de concreto, não tem mais condições de uso e precisa ser substituído em caso de o projeto prosperar.
Secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi vê a iniciativa com bons olhos, mas deixa claro que não haverá verbas da prefeitura.
— Faz todo sentido termos o aeromóvel em funcionamento como um elemento turístico. Estamos aguardando algo mais estruturado, que seja dito em que termos o local poderia ser reutilizado — avalia. — Dependemos de recursos privados. Com dinheiro público, não há como, pela crise nas finanças — acrescenta.
Um dos pontos polêmicos da exploração comercial é a área ocupada, entre canteiros e a Praça Júlio Mesquita. Dependendo da proposta, será necessária aprovação da Câmara Municipal e abertura de licitação aos interessados em se instalarem nas novas lojas, segundo a prefeitura.
Outras propostas — que foram de desmanchar a estrutura a expandi-la até outras regiões — não foram adiante.
— O mais viável hoje é que o sistema se mantenha no circuito da orla, em uma lógica de parque. É comparado a uma roda gigante, um parque de diversões — defende Marcus Coester.
Rafael Ferretti, morador do entorno da Praça Júlio Mesquita e um dos organizadores da Feira do Aeromóvel, celebra a ideia.
— A feira usa os trilhos como abrigo, algo acolhedor. Nos inspiramos no que acontece na Lapa, no Rio de Janeiro, que tem o Circo Voador e outros eventos ocupando o espaço em torno dos trilhos — compara Ferretti, relatando que o número de frequentadores cresceu após a revitalização da orla.
Cenário atual contrasta com projeto moderno
A ideia de transformar o aeromóvel em um empreendimento moderno e atraente a porto-alegrenses e turistas contrasta com o cenário atual de abandono. A aparência é de um trem carbonizado, com lataria corroída. O gerente de operações da Aeromóvel Brasil, Júlio Detoni afirma que o veículo é alvo de furtos:
— Aqui, era cheio de fios, mas o pessoal vem e leva. Sensores, botões do painel que operava o veículo... Triste, porque nos anos 90 eu recebia turmas de escolas de Viamão, de Santo Antônio da Patrulha, de várias cidades.
Antes de ser aposentado, o veículo construído pela Marcopolo realizou viagens por 30 anos — era um misto de teste e atração turística de fim de semana, com o objetivo de vender a tecnologia para outros países. Em 2013, com a inauguração do traçado que liga o Salgado Filho à Estação Aeroporto da Trensurb — responsável por transportar quatro mil pessoas por dia em média —, houve a desativação.
— Havia uma escada na Estação Gasômetro, que foi retirada. A pessoa subia em um lado e podia ir até o outro — lembra Detoni, acrescentando que nos anos 90, entre dois mil e três mil passageiros desfrutavam do aeromóvel nas tardes de sábado e domingo.
Um dos atrativos do aeromóvel, projeto patenteado em cinco países, é o fato de ele não utilizar motor, sendo movido por propulsores de ar. Na Indonésia, opera desde 1989.
— O aeromóvel não é um empreendimento essencialmente barato. É econômico, mas o equipamento tem investimento razoável — diz Marcus Coester.
O custo estimado para ampliação do traçado é de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões por quilômetro.
Ideias que não prosperaram
- Em novembro de 2017, a Aeromóvel Brasil entregou a representantes da prefeitura uma proposta de manifestação de interesse (PMI) para desenvolver um projeto sem recursos municipais. Um estudo sobre implantação de linhas que atenderiam o Centro Histórico e a Zona Sul seria realizado, mas nunca foi aprofundado. À época, se estimava uma tarifa em torno de R$ 4 para atender a um público diário de 20 mil passageiros.
- O vereador Idenir Cecchim (MDB) propôs, também em 2017, remover a estrutura do local. No projeto, rejeitado pelo Legislativo, o parlamentar sugeriu que as vigas fossem levadas à Zona Norte para construção de um dique sobre o arroio do bairro Sarandi. "É um trambolho, que enfeia aquela paisagem que ficou tão bonita com a nova orla", diz o parlamentar.