As noivas vestiram preto. Os padrinhos, cor de rosa. As madrinhas, azul. Na decoração da Catedral Nacional da Santíssima Trindade, no Centro Histórico, em Porto Alegre, as cores do movimento LGBT estavam na decoração. Na noite deste sábado (26), a operadora de caixa Isabella de Vargas Gross, 19 anos, e a auxiliar de cozinha Kauana Rosa Rodrigues, 27 anos, protagonizaram o primeiro casamento igualitário celebrado pela Igreja Episcopal Anglicana no Rio Grande do Sul. No ano passado, os anglicanos aprovaram a união homoafetiva, depois de anos de discussão. Outros enlaces já foram celebrados em outras cidades brasileiras desde então.
– Esse casamento é bastante simbólico porque é o primeiro na Catedral Nacional da Santíssima Trindade, que é a igreja principal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – contextualizou o professor Henrique Klein, 28 anos, coordenador do grupo Anglicanxs, dedicado ao acolhimento de indivíduos LGBT+ na comunidade religiosa.
Oficiada pelo reverendo Jerry Santos, a cerimônia emocionou inúmeros presentes, que choraram. Isabella, de vestido, e Kauana, de calça e blazer, também não conseguiram conter as lágrimas. Elas estão juntas há um ano e meio.
– É um sentimento que não tem explicação. Nasci e me criei na Igreja Anglicana. Sempre assisti aos casamentos e sonhava com o dia do meu, o dia em que a Igreja permitisse que todas as formas de amor fossem válidas. Acredito que, para Deus, toda forma de amor é válida – afirmou Kauana.
Sobre as cores marcantes da cerimônia, a auxiliar de cozinha explicou que o azul e o rosa foram escolhidos para contestar a declaração da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que, em um vídeo que viralizou nas redes sociais, falou que "uma nova era começou no Brasil: menino veste azul, e menina veste rosa". Quanto ao preto do traje das noivas, Kauana disse se tratar também de uma forma de protesto:
– Apesar de ser um dia de comemorações, nunca podemos esquecer de todas as pessoas que, como nós, são homossexuais, ou são transexuais, e morreram sem ter a oportunidade de alcançar o que alcançamos hoje.