Um alerta emitido na quarta-feira (5) pegou a população do bairro Niterói, em Canoas, de surpresa. Segundo a nota publicada pela prefeitura, o "lençol freático e o solo de parte da comunidade estão severamente contaminados" por cromo VI, um metal pesado e também cancerígeno. Segundo o Programa Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua) da Vigilância Sanitária de Canoas, a área de risco, enquanto não se conhece a extensão exata da contaminação, é no quadrante que vai da BR-116 até a Rua Fernando Ferrari, e da Rua Alegrete até a Rua Minas Gerais.
Para quem mora nessa região, a orientação é não utilizar água subterrânea no local, como de poços artesianos, e beber somente água do sistema de distribuição da Corsan. Também não se deve consumir ou cultivar vegetais e árvores frutíferas na área. Obra ou escavações só podem ser iniciadas com autorização do órgão ambiental. A administração pública ainda pede que não se permita que animais consumam a vegetação localizada nessa área afetada.
Circulando pela Praça Dona Mocinha, no coração do bairro Niterói, a reportagem encontrou vários moradores que não sabiam da contaminação. A técnica em radiologia Márcia Novaski, 42 anos, assustou-se com o fato. Ela passeava com a cachorra Bolinha pelo local — uma das orientações é que quem tem água de poços artesianos não a utilize nem para dar de beber aos animais de estimação.
— É muito preocupante saber que o solo e a água estão contaminados — diz Márcia.
Para o bancário aposentado Vandirlei Couto, 77 anos, o que traz mais calma é o fato de água utilizada nas residências ser fornecida pela Corsan. Morador do bairro há 20 anos, ele diz que vai redobrar os cuidados na sua residência, mesmo sem usar água de poço.
— Pouca gente ainda tem poço artesiano em casa. Eu não conheço nenhum vizinho que tenha. Pelo menos isso, senão seria uma situação bem pior — acredita Vandirlei.
A professora aposentada Margarete Neves da Silva, 68 anos, ficou decepcionada ao saber da situação. Ela conta que já havia lido sobre na internet, mas só acreditou quando foi questionada sobre o problema pela reportagem.
— A gente vê muita coisa na internet. Fica difícil saber o que é verdade ou não, ainda mais nesse caso — aponta ela.
Com um pátio recheado de árvores frutíferas, temperos que planta e usa na cozinha, e até uma parreira de uvas, a professora aposentada está preocupada com a situação ocasionada pela contaminação do solo. Apesar dos pés de bergamota e pitanga não estarem em tempo de colheita, a parreira de uva já está cheia de cachos.
— Não vou poder comer minhas uvas nem usar mais meus temperos. Espero que essa situação se resolva logo — deseja Margarete.
Prefeitura orienta população afetada
Segundo a bióloga Nade Janara Coimbra, da Unidade de Licenciamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Canoas, o alerta feito pela administração pública leva em conta a precaução. Ela acredita que a área atingida pela contaminação seja menor do que a alertada pela Vigilância Sanitária.
— Como ainda não temos a dimensão exata, foi alertada toda essa área por precaução. Porém, pode ser um perímetro bem menor.
Nade explica que a empresa responsável pelo problema — que não teve nome divulgado pela prefeitura — foi notificada e está fazendo um projeto para analisar os riscos e delimitar a área exata da contaminação.
— O projeto será apresentado no fim deste mês. Em janeiro serão feitas as análises e o resultado final deve sair durante o mês de fevereiro — projeta a bióloga.
Depois de concluídas as ações, serão definidas as medidas de remediação — maneira pela qual se descontamina a área.
"Parece alarmismo, mas é precaução"
Professor do curso de Engenharia Química da PUCRS, Claudio Frankenberg explica que a posição da prefeitura em orientar medidas abrangentes para o problema é correta. Segundo ele, enquanto não se tiver certeza do tamanho da contaminação, é melhor mesmo evitar qualquer contato com águas subterrâneas. Quanto à origem do problema, Claudio aponta que normalmente erros ou omissões no processo de descarte dos resíduos são causadores.
— Desde empresas para curtimento de couro, de fertilizantes e até metalúrgicas lidam com cromo VI. Teoricamente, as empresas cuidam de seus efluentes, mas algum descarte incorreto ou vazamento passa despercebido no próprio sistema da empresa. Neste momento, o passo mais importante é detectar a origem, como ocorreu e se ainda está contaminando o solo — explica o professor.
Por ter atingido o lençol freático, a solução do caso pode ser mais complicada. Claudio diz que quando parte do solo é atingida, basta retirar esse solo e encaminhar para o descarte correto. Mas se é algo que persiste há mais tempo, tendo já passado o solo e chegado ao lençol freático, existe a necessidade de "tratar o lençol".
O que a população precisa saber
É permitido beber água da torneira?
Se você usa água de poço artesiano em casa, não. Somente casas atendidas pela Corsan não foram afetadas pela contaminação, pois ela vem de uma estação de tratamento.
É possível tomar banho?
Somente se sua residência for atendida pela Corsan.
A contaminação está no ar?
Não, a contaminação por cromo atinge somente o solo e o lençol freático.
É indicado comer ou cultivar frutas e verduras?
Se sua residência está na área afetada, não. A recomendação é não cultivar ou ingerir nada proveniente do solo contaminado.
Posso fazer obras que precisam de escavação?
Não. A orientação da prefeitura é não se execute qualquer tipo de obra ou escavação na área sem autorização do órgão ambiental.
Animais podem pastar na região?
Também não, a orientação é não permitir que animais consumam a vegetação localizada nessa área.