Abacaxis com duas coroas, bananas “siamesas” ou solitárias, caídas do cacho, e berinjelas com uma das pontas proeminente não são comuns nas prateleiras de supermercados. Alimentos em perfeitas condições consumo, mas cuja aparência é considerada fora dos padrões estéticos exigidos pelas grandes redes, eles costumam ser descartados logo após a colheita pelos produtores. Desde o começo do ano, no entanto, duas jovens empreendedoras da Capital trabalham para que os vegetais até então desperdiçados entrem na rota do consumo.
O site 400g funciona como um clube de assinaturas de frutas, legumes e verduras com uma aparência única, diferente do que é vendido no mercado. Por valores a partir de R$ 60 mensais (para duas cestas quinzenais de cinco quilos), Rafaela Dal Ben Gomes e Natielly Cardoso selecionam os produtos, cultivados por famílias de Porto Alegre e da Região Metropolitana sem o uso de agrotóxicos, que agora recebem destino adequado, chegando à mesa dos porto-alegrenses.
Desde fevereiro, quando tiveram início as entregas, quase cinco toneladas de vegetais que seriam descartados por razões estéticas foram comercializadas pela 400g – o nome faz referência à quantidade diária mínima de hortaliças, frutas e legumes que, conforme a Organização Mundial da Saúde, compõem uma dieta equilibrada.
– A caixa é uma surpresa porque trabalhamos com o ciclo da natureza. É o que tem na época. O consumidor informa se tem alguma restrição e montamos cada caixa personalizada – conta Rafaela.
Formada em Relações Internacionais, a jovem de 24 anos começou a projetar o negócio no final da faculdade, quando descobriu que cerca de um terço dos alimentos produzidos eram descartados por causa da aparência. Uma conversa com o avô, que cultiva hortaliças por hobby, a inspirou a agir:
– Perguntei o que considerava um vegetal imperfeito e ele não soube responder. Sabe que se nascer uma cenoura diferente vai ser supernormal porque a natureza é assim. Ao mesmo tempo que esses vegetais são descartados, muita gente passa fome. Queremos mostrar para o consumidor que ele tem como ser mais consciente. Em um mundo ideal, a 400g não deveria existir.