No dia em que completou um mês de volta ao Brasil, nesta terça-feira (25), a médica cubana Doraisy Pérez Laurencio ganhou um motivo a mais para alimentar o sonho de ficar em definitivo no país que a acolheu nos últimos dois anos. Ela e a conterrânea Bárbara Reynaldo Fernandez, que também é médica, receberam suas carteiras de trabalho para poderem atuar no Brasil.
— Vamos devagar, mas vamos conseguindo. Agora começamos a estudar para o exame (Revalida, para médicos formados fora do Brasil) — conta.
A expressão cansada na voz da médica cubana coroa semanas de trabalho árduo em busca de uma documentação que permitisse dar início a uma nova etapa no país, fora do programa Mais Médicos. Doraisy estava em férias em sua terra natal quando, no fim do mês passado, soube do fim do contrato com o governo federal — voltou para resolver problemas e decidiu ficar no Brasil. Além da retirada da carteira, Doraisy e Bárbara têm deixado currículos em farmácias e clínicas de cuidados com idosos — até que passem pelo Revalida, não podem exercer a medicina.
A principal aposta da dupla, no entanto, ainda é em uma vaga no programa do governo federal. As duas se inscreveram no sistema e aguardam por um retorno que deve vir no final de janeiro para saber se poderão reingressar no programa — que agora irá privilegiar médicos brasileiros.
— Seremos as últimas a receber resposta, depois dos médicos brasileiros formados no Brasil e dos médicos brasileiros formados no Exterior. Achamos injusto, porque já conhecemos o programa, mas vamos esperar por isso para determinar um plano B — conta.
Enquanto não conseguem desatar os nós burocráticos para retomar a atuação no Brasil, Doraisy e Barbara contam com a ajuda de amigos para se manterem em Guaíba, onde dividem uma casa. Consideradas desertoras em sua terra natal e proibidas de retornar durante oito anos, segundo elas, as duas médicas cubanas tentam buscar formas de continuarem no Brasil pelos próximos anos.
— Não tenho nada contra o meu país. Tudo que eu sou eu devo a ele, e tenho gratidão por isso. Quero voltar um dia. Acho que o Brasil tem muito a aprender com Cuba — disse a médica.
As duas compartilham do mesmo motivo para querer permanecer no país: ajudar a família que ficou em Cuba. Doraisy manda o que pode de dinheiro para a mãe. Bárbara também ajuda os parentes, em especial, uma irmã que tem uma doença nos ossos e precisa de muita medicação. O salário que um médico ganha no Brasil é muito maior do que em Cuba.