De jaleco branco e levando bandeiras dos dois países, chegaram nesta sexta-feira (23) a Havana os primeiros 200 médicos cubanos que retornam do Brasil, depois que a ilha decidiu deixar o programa Mais Médicos em reação às críticas do presidente eleito Jair Bolsonaro.
O presidente Miguel Díaz-Canel, que na quinta-feira (22) foi anfitrião do chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, foi ao terminal aéreo junto com outros dirigentes para saudar os compatriotas, relatou o jornal Juventud Rebelde.
"Nossos compatriotas convertidos em #MasQueMedicos voltam dignos, porque chegaram onde ninguém chegou, para curar e tratar doenças e para animar as almas dos necessitados. Eles mostraram que um mundo melhor é possível", tuitou Díaz-Canel.
O voo da Cubana de Aviación, um IL-96-300 de fabricação russa, aterrissou em Havana às 5h15min locais (8h15min em Brasília) depois de um trajeto de quase sete horas de voo.
Trata-se do primeiro grupo dos mais de 8,3 mil cubanos que devem deixar o Brasil até 10 de dezembro, depois que Havana decidiu se retirar do acordo mantido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) há cinco anos com o Brasil.
— Voltamos hoje, e assim farão nossos colegas, com toda honra e dignidade do mundo. Nunca permitiremos ameaças, nem que questionem o humanismo e o profissionalismo com que atendemos nossos pacientes brasileiros — disse um dos médicos ao Juventud Rebelde, ao desembarcar.
Bolsonaro condicionou a permanência dos médicos a uma revalidação de seu diploma e a contratos individuais com o governo brasileiro, que lhes permita receber o salário integral, assim como liberdade para levarem suas famílias ao Brasil.
Cuba paga a seus médicos no Exterior 30% do que recebem por seu trabalho, mantém seu posto de trabalho e salário na Ilha e dedica o restante dos recursos ao orçamento público, sobretudo, para o apoio de um sistema de saúde gratuito e universal para seus cidadãos.
A exportação de mão de obra profissional é a primeira atividade da economia cubana, que proporcionou mais de US$ 10 bilhões anuais ao orçamento estatal. Esse montante baixou consideravelmente nos últimos anos devido à crise da Venezuela, onde trabalham milhares de médicos cubanos.
Desde que a decisão de Cuba foi anunciada, há uma semana, a imprensa local faz uma intensa campanha sobre o tema com fortes acusações contra Bolsonaro.