Não foi só a vida dos viajantes que utilizam o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, que mudou após a retirada de vagas públicas de estacionamento no entorno do local. Funcionários relatam furtos em veículos e insegurança após a mudança, que começou a ser feita em agosto.
A decisão de extinguir as vagas públicas no entorno do aeroporto foi tomada pela Fraport, concessionária que administra o espaço, com o objetivo de melhorar o fluxo de usuários. Os funcionários da empresa alemã contam com um espaço, junto ao terminal 2, para deixar os veículos. A Fraport não divulgou quantas vagas são disponibilizadas no local, mas funcionários de outras empresas que funcionam no aeroporto alegam sofrer com a insegurança.
Antes, quem trabalhava para outras empresas que operam no aeroporto, como as companhias aéreas, utilizava as vagas das vias de entrada e saída dos terminais, as ruas laterais entre os estacionamentos, as rampas do segundo piso do terminal 1 e o recuo em frente ao terminal 2. Agora, os trabalhadores precisam pagar se quiserem estacionar. Segundo os relatos, os preços para estacionar no Salgado Filho pesa no bolso: são RS 190 no plano mensal e R$ 28 pela diária.
Deixar o carro nas redondezas, como na Avenida Severo Dullius, em frente ao Pepsi On Stage, tem sido uma tarefa amarga. Funcionária de uma das empresas aéreas, que prefere não se identificar por medo de retaliações, conta que teve o carro furtado no final do mês passado. Ela relata que estacionou na Severo Dullius à tarde e, quando saiu do plantão, às 21h, o veículo não estava mais lá. Depois de ter recebido o valor do carro pelo seguro e de ter comprado outro veículo, ela continua com medo.
— A gente trabalha lá dentro, o mínimo que queremos é segurança. Amo meu trabalho, sou apaixonada pelo que faço, mas saio de lá todo dia rezando: "Tomara que o carro esteja lá". Não tem como ficar em paz assim — afirma.
Naquela mesma semana, ouviu relatos de colegas que tiveram pneus e rádios levados, vidros quebrados e de uma moto que foi levada. Ela conta que sai de casa com duas horas de antecedência para tentar uma vaga mais perto do aeroporto.
Conforme a delegada Sabrina Teixeira, da 4ª Delegacia da Polícia Civil, que responde pela região, o número de ocorrências registradas por furtos aumentou desde a retirada das vagas. Segundo ela, os crimes no local ocorrem por oportunidade: antes, era mais raro que alguém estacionasse naquele trecho porque os carros ficavam mais perto do aeroporto, em áreas com maior circulação de pessoas.
— Uma das dificuldades que enfrentamos é que não sabemos nem o horário em que os crimes ocorrem, porque o funcionário só constata o furto no fim do expediente de trabalho, quando volta até o carro – explica a delegada.
A maioria das ocorrências são registros de furtos de itens pessoais dentro dos carros ou peças do veículo, como rádio e pneu. Mas ocorre também o furto do próprio veículo — os mais antigos são mais visados, pela facilidade por trocar peças.
Sindicato recebe reclamações
Quem também tem recebido os relatos é o Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre. Em agosto, após a mudança ser divulgada, um abaixo-assinado com 600 assinaturas foi entregue para a Fraport. Conforme o diretor de comunicação da categoria, Osvaldo Rodrigues, foram feitas diversas tentativas de diálogo, mas nenhuma medida teve sucesso. Para ele, não havia necessidade de extinguir as vagas.
— Estacionamento para trabalhador é uma questão de segurança. E a categoria se propõe a pagar por isso, mas não o mesmo de quem está indo viajar. Até R$ 100, a gente entende que estaria ao alcance do funcionário, mas cobram quase R$ 200 — argumenta Rodrigues.
Sem respostas para a situação, o sindicato pretende acionar outras entidades, como a Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil, para tentar resolver o problema em esfera nacional, já que o problema se repete, conforme Rodrigues, em outras cidades.
A Brigada Militar trabalha com um cenário diferente. Conforme o major Itacir Ramos, que responde pelo comando do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), os dados da corporação mostram que o número de ocorrências de roubo e furto entre setembro e novembro deste ano é semelhante ao do mesmo período do ano passado na região. Com uma exceção: este mês teve redução de furtos. O oficial afirma que foram feitas mais ações de policiamento no local:
— Intensificamos (o policiamento), removendo postos fixos que tínhamos em outros lugares. E continuamos com outras ações para dirimir o problema.
Procurada por GaúchaZH, a Fraport disse apenas que "as empresas que atuam no aeroporto devem realizar negociações diretamente com a administradora do estacionamento" do local.