A sigla #TBT — em inglês, throwback thursday, significa "quinta-feira do regresso" - é usada nas redes sociais para relembrar algo do passado. GaúchaZH aproveita as quintas-feiras para retomar promessas, projetos, obras que ficaram no passado, paradas, atrasadas ou até mesmo que nunca saíram do papel.
A discussão sobre a construção da Rodovia do Progresso (RS-010) começou há mais de uma década e atravessou dois governos, que elaboraram projetos distintos. Do papel, porém, não saiu nem sequer um quilômetro. A ideia de uma rodovia que ligasse a zona norte de Porto Alegre a Sapiranga surgiu em 2007.
No governo Yeda Crusius (2007-2010), foi aberta uma concorrência, vencida pela construtora Odebrecht.
— Um dos objetivos estratégicos era fazer o Rio Grande do Sul sair do caos rodoviário no qual ele sempre esteve. Fazer estradas novas e criar mecanismos de parcerias público-privadas que complementassem a ação do governo. E, para o setor rodoviário, queríamos desafogar a entrada e a saída de Porto Alegre pela BR-116 — afirma a ex-governadora.
Yeda defende que o projeto era viável e tinha aprovação de todos os prefeitos da região. Ela coloca o fracasso da proposta na conta do governo federal:
— Recebi por fax, no meu gabinete, um ofício do ministro das Cidades dizendo que não aceitaria que a Assembleia Legislativa analisasse esse projeto. Uma total interferência. Então retirei a proposta.
Antes de deixar o cargo para seu sucessor, Tarso Genro (2011-2014), a então governadora decretou o fim do projeto.
— Ao final do governo, eu não ia deixar tudo que foi feito para qualquer tipo de ação indigna ali no futuro. Então fiz um decreto desmanchando os projetos que não haviam ainda sido iniciados, com orçamentos e recursos — afirma.
O projeto foi desfeito, mas a ideia foi retomada na gestão seguinte. Em 2013, o novo estudo definiu o trajeto: cerca de 60 quilômetros, desde a zona norte de Porto Alegre até Sapiranga, em um traçado paralelo à BR-116. Com os acessos, seriam construídos quase 100 quilômetros de pista. Praças de pedágio ajudariam com recursos para a construção dos demais trechos, que seriam feitos por lotes.
Segundo o secretário de Infraestrutura e Logística do governo Tarso, João Victor Domingues, a nova rodovia não serviria apenas para desafogar o trânsito na BR-116, já amenizado com a abertura da Rodovia do Parque (BR-448).
— As áreas do traçado sofreram valorização econômica absurda. E, a partir da valorização, seria criado um fundo de investimentos. Poderíamos ter, por exemplo, centros de outlet, condomínios e plataformas logísticas a partir dessa nova rodovia — complementa.
Outra forma de o Estado arrecadar verbas para a rodovia seria a cobrança de taxa para as empresas que se instalariam ao longo da RS-010. Cada acesso para o estabelecimento comercial renderia recursos para os cofres públicos.
A vencedora da licitação seria também responsável pela administração dos pedágios e pelas desapropriações dos terrenos, um custo estimado em R$ 150 milhões. O valor de toda a obra, estimado em março de 2010, era de R$ 1,8 bilhão.
Por que o projeto não saiu no governo Tarso?
Dois motivos fizeram com que a ideia não fosse levada adiante, segundo o ex-secretário: a falta de comprovação das contrapartidas do governo do Estado, que teve de priorizar o projeto do metrô (que também não saiu do papel), e a queda da credibilidade das construtoras após as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
— A derrocada das empresas de engenharia a partir da Lava-Jato foi determinante — relata Domingues.
O governo atual limitou-se a informar em nota que, em razão da crise financeira do Estado, optou por priorizar projetos que já estavam implementados, como a RS-118, além de acessos municipais e programas de recuperação de rodovias.
11 anos depois, o que ficou?
Ainda há um estudo de impacto de veículos que circulariam pela rodovia e o seu traçado, faltando ainda concluir o edital para licitação.
Escolhido pelo próximo governo como articulador da equipe de transição, o deputado Lucas Redecker (PSDB) informou que ainda não discutiu o tema com Eduardo Leite. Na época, o parlamentar defendia a construção com urgência.
— A RS-010 é uma necessidade não de hoje, nem de amanhã. É uma necessidade de ontem — frisou o deputado, em um congresso em 2012.
A previsão era de as obras iniciarem em 2015. Se fosse seguido o cronograma, já estaria pronta a faixa da freeway à RS-118 e estaria prestes a ser entregue o trecho da RS-118 até Novo Hamburgo. O último lote, até Sapiranga, ficaria para 2020.