Começou a vigorar nesta segunda-feira (19) a medida da prefeitura de Canoas de cessar os atendimentos eletivos — consultas e exames que já estavam agendados — nos três principais hospitais da cidade. Os locais atingidos foram o Hospital Universitário (HU) e o Hospital de Pronto Socorro (HPS) — que são públicos — e o Hospital Nossa Senhora das Graças, instituição privada da qual o Estado compra serviços.
As três instituições deixaram de oferecer mais de cem tipos de procedimentos, entre consultas, exames e serviços de ambulatório. A causa da suspensão dos serviços é o atraso em repasses do governo estadual ao município. O valor dos repasses atrasados é de R$ 37 milhões, segundo a prefeitura. O tempo de suspensão dos atendimentos é indeterminado. A administração municipal informou que, quando os repasses forem normalizados, será feita uma ação para retomar os atendimentos.
Nesta manhã, GaúchaZH percorreu as três instituições para conferir o primeiro dia com atendimento restrito.
Atendimento
No Nossa Senhora das Graças, referência para 82 municípios, o movimento era tranquilo. Como o Estado não havia informado oficialmente as secretarias de saúde dos municípios do Litoral Norte sobre as restrições, o diretor do hospital, Francisco Valmor Marques de Ávila, garantiu que as pessoas dessas cidades ainda seriam atendidas nesta segunda.
Os atendimentos para moradores de Canoas e Nova Santa Rita nas especialidades de oftalmologia e oncologia seguem. Esses são serviços contratados pelos próprios municípios junto ao hospital. O que está suspenso são os serviços contratados pelo Estado. Conforme Ávila, o valor total em atraso com a instituição é de R$ 3 milhões — R$ 2,7 milhões em repasses para emergência e R$ 300 mil para leitos de UTI.
Emergências
O HU e de HPS restringiram o atendimento apenas a casos de urgência e emergência. Com a medida, pacientes com consultas eletivas ou exames marcados para esta segunda-feira, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), tiveram seus agendamentos cancelados — e sem previsão de remarcação. A dona de casa Camila Toniolli, 30 anos, levantou às 2h para levar o filho Ederson Leandro Toniolli Borges, 12 anos, ao HU. Moradora de Vacaria, na Serra, ela não foi avisada de que os exames do filho, que sofre de má formação congênita nos pés, seriam desmarcados.
— Faz 12 anos que aguardamos essa cirurgia. Já consultamos em Vacaria e Caxias do Sul. No fim, ele conseguiu ser atendido no HU, mas faltavam os exames para que o médico pudesse marcar a data da cirurgia. Agora, vai saber quando serão feitos — lamenta Camila. — O motorista (da van que os levarão para casa) disse que vai passar depois das 15h. Vamos chegar lá pelas 22h em casa. E ainda sem os exames — acrescenta.
Sem orientação
O auxiliar de estoque Maurício da Silva Tomaz, 22 anos, tinha consulta marcada para a última sexta-feira (16) no HPS de Canoas. No dia 4 de novembro, ele passou por uma cirurgia para a retirada do apêndice. Na época, o médico concedeu 15 dias de atestado e orientou mais 40 de repouso.
— Na reconsulta, o médico iria me avaliar e sinalizar se ficaria os 40 dias de atestado ou não. Mas eles cancelaram a consulta. O problema é que a empresa disse que sem o atestado vai me demitir — conta, ao frisar que também não conseguiu atendimento nesta segunda.
Contraponto
No sábado (17), o governo estadual informou que "nos próximos dias, deve ser informada uma data de pagamento dos incentivos estaduais em aberto à Saúde, que correspondem ao atraso de duas parcelas, totalizando R$ 130 milhões".
A Secretaria Estadual da Saúde (SES), procurada nesta segunda, ainda não respondeu se já existe perspectiva da divulgação da data de pagamento do dinheiro atrasado. A Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) estima que o Estado tenha uma dívida de cerca de R$ 500 milhões com prefeituras para manutenção dos serviços de saúde.