A direção do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), de Canoas, considera que a suspeita de fraudes em próteses ocorrida entre 2006/2007 — e que gerou um demorado processo judicial, como mostrado por GaúchaZH no dia 16 de novembro — "foi uma das situações mais indesejadas nos 56 anos de existência" do estabelecimento.
O diretor-administrativo do hospital, Francisco Valmor Marques de Avila, diz que, à época em que as suspeitas foram levantadas por auditores do Sistema Único de Saúde (SUS), foram feitos todos os esforços para o esclarecimento dos fatos. A direção do estabelecimento colaborou com a auditoria do Ministério da Saúde, enfatiza ele. Isso acabou originando uma autuação e um processo que corre na 2° Vara Federal de Canoas.
— Nessa ação, que apontará culpados, o hospital é parte e confiamos na absolvição do Nossa Senhora das Graças. A equipe de profissionais de traumatologia e ortopedia da época foi totalmente afastada e hoje contamos com novos médicos desta área atuando no hospital - ressalta Avila.
O diretor-administrativo do Nossa Senhora das Graças afirma que as suspeitas de fraudes em nada têm a ver com a dívida atual do hospital — são devidos R$ 130 milhões para médicos, fornecedores e bancos. Esse débito, informa Avila, está diretamente relacionado ao subcusteio do SUS, sem incentivos financeiros suficientes pelo poder público para contribuir com a tabela do sistema, defasada há mais de 20 anos.
Avila afirma que a atual diretoria do hospital cumpre rigorosamente o Plano Operativo do SUS contratado com o município de Canoas, e nunca pressionou a atual gestão municipal a pagar por serviços não executados. Ele se refere à queixa do prefeito canoense, Luiz Carlos Busato (PTB), de que o pagamento de atendimentos e cirurgias feitas no Nossa Senhora das Graças tem sido glosado constantemente (cobrança de devolução do dinheiro por serviços que considera não prestados). O prefeito afirma que, um mês depois de assumir, auditoria constatou que, de 600 consultas neurológicas pagas ao hospital nos três primeiros meses de 2017, apenas umas poucas foram realizadas.
— Glosamos R$ 590 mil em consultas não comprovadas — diz.
Avila garante que a situação não é a descrita pelo prefeito. Quando não é possível cumprir um determinado procedimento contratado, "por questões que fogem da sua vontade e intenção", o hospital compensa com procedimento do mesmo grupo (exames, por exemplo).
— É uma situação legal e prevista em contrato, o que mantém o hospital em total regularidade com o município de Canoas — assegura o diretor do Nossa Senhora das Graças.
Avila lembra que por mais de 42 anos o Nossa Senhora das Graças foi a única fonte de assistência em saúde de Canoas - neste hospital nasceram 136.000 canoenses. O diretor da instituição afiança também que a mantenedora do hospital, a Associação Beneficente de Canoas, apoia a auditoria proposta em reunião no Ministério Público Estadual no dia 7 de novembro passado, nos mesmos moldes da executada no Hospital Beneficência Portuguesa.
— O hospital não sofre pela falta de gestão, como muitos falam, e sim por uma crise de credibilidade histórica, o que dificulta a negociação de contratos antigos e com vícios, que prejudicam o seu desempenho. Contudo, com o envolvimento de todos, Ministério Público, prefeitura municipal, Sindicato Médico (Simers) e mantenedora do hospital, numa condição de "armistício", serão encontradas soluções que certamente podem recuperar o Nossa Senhora das Graças. O hospital é viável — conclui Avila.