O atraso em repasses do governo do Estado a hospitais do Rio Grande do Sul já afeta milhares de pacientes. Quem tinha procedimento eletivo marcado para esta semana ainda não sabe quando será chamado. Na Região Metropolitana, Canoas, São Leopoldo e Sapucaia do Sul suspenderam consultas, exames e cirurgias que estavam agendadas para esta semana. Nas três cidades, deixaram de ser realizados, até quinta-feira (22), mais de 32 mil exames, 370 consultas e 376 cirurgias.
Grande parte dos números é de Canoas, onde a paralisação está em vigor desde segunda-feira (19). Na cidade, os locais atingidos são o Hospital Universitário da Ulbra (HU), o Hospital de Pronto-Socorro e o Hospital Nossa Senhora das Graças. As três instituições são referência para 156 municípios do Estado. Segundo a assessoria de imprensa do município, somente no primeiro dia de paralisação, deixaram de ser realizados 7,5 mil exames eletivos no HU e no Gracinha. A administração informou que o valor em repasses atrasados, hoje, é de R$ 26 milhões, mas que deve chegar aos R$ 37 milhões até o dia 30.
Em Sapucaia do Sul, desde terça-feira (20), estão sendo realizadas somente consultas que já estavam agendadas, além de casos de urgência e emergência. Segundo a assessoria do Hospital Getúlio Vargas, a unidade faz cerca de 180 cirurgias eletivas e 1,2 mil exames por mês. Desde a suspensão, deixaram de ser atendidos 21 pacientes que passariam por cirurgia. Além disso, 90 exames que já estavam agendados não têm data para serem feitos. A prefeitura diz que o governo gaúcho tem dívida vencida com o hospital de Sapucaia no valor de R$ 7,8 milhões. No próximo dia 30, esse valor chegará a R$ 12 milhões.
O Hospital Centenário, de São Leopoldo, onde atualmente são realizadas apenas consultas e cirurgias eletivas, parou com os atendimentos na quinta-feira (22). A assessoria da instituição informou que foram canceladas 30 consultas e sete cirurgias eletivas. Para esta sexta (23), serão canceladas mais nove cirurgias. Não havia consultas marcadas para hoje. Por mês, são realizadas no Centenário, em média, 290 consultas e 170 cirurgias.
Nenhuma das cidades deu previsão de retomada dos trabalhos. A expectativa é de que isso ocorra somente quando o governo regularizar os pagamentos. Feito o repasse, os procedimentos eletivos cancelados começarão a ser reagendados.
Atendimento segue em outras cidades
A falta de verba ainda não ocasionou cancelamentos em outras cidades da Região Metropolitana. Segundo o Instituto de Cardiologia, que administra o Hospital Viamão, o Hospital Alvorada e o Hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha, as demandas eletivas, como exames, cirurgias e consultas já marcadas, seguem sendo atendidas. A assessoria também disse que o Instituto de Cardiologia da Capital não vai parar com os trabalhos eletivos.
Em Esteio, o Hospital São Camilo segue funcionando normalmente. Segundo a direção da instituição, o local atende "situações eletivas menos complexas", que ainda não foram afetadas pela falta de repasses. O Hospital Dom João Becker, de Gravataí, que faz parte da rede de instituições filantrópicas da Santa Casa de Misericórdia, informou que, por enquanto, não há previsão de cancelamento de procedimentos eletivos.
Em Novo Hamburgo, foi instaurado um Comitê de Gestão da Crise da Saúde para avaliar a situação. Nesta sexta, deverão ser divulgadas as medidas que serão adotadas no município.
Pagamentos ainda sem previsão
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) informou que ainda não há prazo para que os repasses sejam regularizados. A Secretaria da Fazenda chegou a dizer, na quarta-feira (21), que destinará R$ 20 milhões à área da Saúde nos próximos dias. Não foi dada uma previsão exata, mas a pasta pretende que o pagamento ocorra "antes do dia 30 de novembro".
A Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) estima que o Estado tenha uma dívida de cerca de R$ 500 milhões com prefeituras para manutenção dos serviços de saúde. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Diego Espíndola, disse que o repasse anunciado é paliativo.
— É muito pouco. Se tu analisar o montante, que é bem maior, eles pegam um pouco de dinheiro e pulverizam.