Se a relação entre Executivo e Legislativo já era delicada, a nota emitida na noite de terça-feira (16) pela prefeitura cobrando "maior produtividade dos vereadores até dezembro" incendiou a Câmara Municipal de vez.
A sessão desta quarta-feira (17) teve vereadores se revezando para criticar o governo Marchezan, a começar pelo presidente, Valter Nagelstein (MDB). Ele fez um discurso inflamado classificando o atual governo como "desastre" e atribuindo a dificuldade na aprovação dos projetos à "incompetência do governo" na articulação junto à Casa:
— Há dois anos (o governo) não consegue avançar um milímetro na agenda da cidade.
O texto divulgado pela prefeitura lista o número de sessões — cem ordinárias e 17 extraordinárias — e diz que, "mesmo assim, o Legislativo não conseguiu levar a votação projetos importantes para a cidade". O principal motivo de revolta dos vereadores é que boa parte do ano na Câmara foi consumida para que se analisasse um pacote de reorganização administrativa do governo Marchezan, que trancou a pauta legislativa por tramitar em regime de urgência.
O líder do governo, Moisés Barboza (PSDB), se disse surpreso, tendo em vista que o prefeito Nelson Marchezan, em pessoa, conforme o vereador averiguou, não deu entrevistas sobre o assunto. A nota divulgada pela prefeitura cita apenas "o Executivo", sem personalizar a cobrança. Ainda assim, os vereadores, com diferentes graus de indignação, criticaram a personalidade de Marchezan.
— Lamentável a declaração do prefeito. Como um moleque, sai atribuindo suas irresponsabilidades aos outros — declarou Dr. Thiago (DEM).
Lamentável a declaração do prefeito. Como um moleque, sai atribuindo sua irresponsabilidade aos outros.
DR. THIAGO
Vereador do DEM
O Executivo tem como prioridades até o final de 2018 seis projetos. Eles dispõem sobre construções na cidade, normas urbanísticas para instalação de estações de radiocomunicação (Lei das Antenas), isenções no transporte público, publicidade no transporte público, registro de imóveis inventariados (Lei do Patrimônio Histórico) e a revisão da planta do IPTU, este ainda em regime de urgência.
Já a Câmara tem como prioridade a Lei das Antenas, a Lei do Patrimônio Histórico e a chamada Lei do Mobiliário Urbano, que legisla sobre espaços como placas, paradas de ônibus, relógios, bicicletários e parklets.
A semelhança entre as duas pautas levou Nagelstein a ironizar a prefeitura alegando "plágio", já que os próprios vereadores haviam sugerido a apreciação de parte dos projetos anteriormente. Além disso, os 36 vereadores elaboram uma lista em que cada um escolhe um projeto de sua autoria que deseja levar a plenário ainda em 2018.
GaúchaZH questionou a prefeitura se ela se manifestaria sobre a sessão desta quarta-feira na Câmara e recebeu a seguinte nota de esclarecimento:
"O prefeito Nelson Marchezan Júnior não emitiu qualquer nota ou concedeu qualquer entrevista comentando ou cobrando maior produtividade da Câmara de Vereadores. Marchezan chegou hoje à tarde a Porto Alegre (quarta-feira) após uma missão de 10 dias na China. O que ocorreu foi um levantamento informal do Gabinete de Comunicação, enviado a jornalistas, com os projetos prioritários para o Legislativo até o fim do ano, alguns que já estão na Câmara, e outros que o Executivo pretende enviar após apresentar para a base."