A turma de Dhionathans Ribeiro no 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Celina Westphalen Weissheimer, em Viamão , na Região Metropolitana , viveu uma intensa mudança ao longo de 2018. Depois de participar de palestras, oficinas, grupos de teatro e campanhas temáticas, os colegas conseguiram derrubar tabus em assuntos como álcool, drogas e sexo, que enchem de dúvidas os adolescentes. Nas atividades em grupo ao longo do ano, têm sido sanadas dúvidas sobre uso de preservativo, danos causados por drogas e álcool, entre outros.
— Muita gente não tem oportunidade de falar disso em casa, então traz as dúvidas para a escola. É bom ter um espaço para discutir esses assuntos — afirma o estudante de 15 anos.
Seu colega de turma Gustavo Pereira Cardoso, 16, diz que casos de bullying eram comuns em anos anteriores e também viraram foco de reflexão. As conversas ajudaram a aproximar grupos diferentes dentro da escola e criaram um ambiente mais amistoso de convivência, afirma:
— A gente passou a entender que, se todo mundo se ajudar, todo mundo poderá ir mais longe.
O método levado à escola foi apresentado nesta sexta-feira (19) ao Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), órgão que avalia começar a financiar as ações do Projeto Galera Curtição. Em Viamão, são 6 mil alunos e 240 professores de 60 escolas estaduais e municipais envolvidos. A ação se iniciou no município em 2016, e o custo anual do programa de R$ 500 mil é pago pela prefeitura.
Um representante acompanhou a apresentação dos programas de auditório, um evento em que estudantes apresentam a colegas de outras escolas o que aprenderam sobre os temas debatidos, em jogos e apresentações artísticas. Foram abordadas questões como saúde sexual, reprodutiva, equilíbrio entre homens e mulheres, empoderamento feminino e bullying.
— Um projeto como este é importante por que reúne as informações que vão qualificar o adolescente e o jovem para governar sua vida com mais inteligência — avaliou o representante da UNFPA Caio Oliveira, que é assessor de HIV e Juventude da entidade.
De modelo a toda terra
Oliveira explica que a ideia da UNFPA é apoiar financeiramente uma ação mais abrangente, que envolva o método da Galera Curtição com ações de saúde pública e outras ONGs. Ele evitou adiantar prazos ou valores envolvidos, mas disse que a ideia é esticar a ação para Porto Alegre, onde também há ação do Galera Curtição.
— Esta experiência pode ser compartilhada em outros municípios, nacionalmente e internacionalmente para países com contexto parecido com o brasileiro se conseguirmos sistematizar esta metodologia — afirmou o representante do Fundo.
A iniciativa acontece durante todo o ano nas salas de aula, com oficinas, teatro-fórum, formação de alunos multiplicadores e capacitação de professores nos temas abordados. De acordo com a coordenadora do Projeto, Jaqueline Machado, uma das metas é tornar o jovem protagonista de transformação social nas suas comunidades. Além de compartilhar conhecimento, eles organizam campanhas como testes de HIV nas escolas e na vizinhança, compõem e apresentam músicas sobre respeito às mulheres e constroem material informativo sobre uso de drogas.
— As ações têm um caráter mais prático e lúdico, que ajuda a elevar o interesse dos alunos na sala de aula. Nas turmas onde o projeto é aplicado, o índice de frequência subiu 23% — afirma Jaqueline.