Se Porto Alegre tem apenas 46,3 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas concluídas ou em execução, menos de 10% do previsto no Plano Diretor Cicloviário, e ainda carece de infraestrutura e regulamentação para oferecer mais opções de transporte individual voltado à energia limpa, São Paulo já desponta com algumas tendências. Veja três que podem inspirar a capital gaúcha.
Um táxi com pedal e duas rodas
Parece utopia, mas em São Paulo já há quem consiga unir a rapidez da bicicleta e o conforto de uma carona sem gastar muito. Em operação há 10 meses, o Bikxi (uma junção de bike com táxi) oferece viagens por roteiros preestabelecidos, sempre por ciclovias.
O serviço custa a partir de R$ 3,50 e sobe a cada quilômetro rodado, com rotas que ultrapassam 20 quilômetros. Os trajetos são feitos em uma bicicleta elétrica de dois lugares, e o passageiro pode escolher se ajuda o condutor a pedalar ou viaja sem fazer esforço.
— Essa é uma maneira fácil de deixar o carro e ir para outro modal. Nosso foco é nas distâncias curtas para fazer de carro, mas longas para fazer a pé — observa o fundador da Bikxi, Danilo Vieira Lamy.
Sem paciência para enfrentar o trânsito nos 10 quilômetros que separavam sua casa de seu antigo trabalho, em uma agência bancária, Danilo resolveu pedalar. Não só tornou a rotina menos estressante como economizou no tempo de deslocamento, reduzido a metade com o novo modal.
Percebeu, no entanto, que uma série de restrições afastava as pessoas da bicicleta, como chegar suado, não se sentir seguro e ter dificuldade para guardar o veículo. O app veio para encerrar as desculpas, oferecendo apenas o lado bom da experiência sobre duas rodas.
Com 21 bikes, o serviço já realizou mais de 20 mil corridas.
Bicicletas à disposição em qualquer lugar
Encontrar uma bike estacionada na rua sem corrente ou cadeado é uma realidade em São Paulo desde o começo de agosto. Com mais de 2 mil bicicletas disponíveis, a empresa Yellow oferece um serviço de compartilhamento semelhante aos já existentes, com a diferença de que a magrela pode ser deixada em qualquer ponto após o uso.
— Ganhamos em capilaridade. As pessoas não ficam limitadas à circulação entre estações — explica o diretor de comunicação e marketing da empresa, Luiz Marques.
A diferença entre as bicicletas disponibilizadas pela empresa e as comuns é um sistema de travamento ativado pelo usuário ao final da corrida – e desativado por aplicativo quando outra pessoa aluga a bike. Houve casos de bikes roubadas e vandalizadas, mas o número estaria aquém do estimado pela Yellow – que não o divulga pro questões estratégicas.
Por R$ 1 a cada 15 minutos, é possível utilizar as bikes amarelas. A novidade parece ter agradado os paulistanos. Nas duas primeiras semanas de operação foram realizadas mais de 40 mil corridas. A largada bem-sucedida também motivou uma rápida expansão. Até novembro, a Yellow pretende oferecer mais de 20 mil bikes na capital paulista. O plano é quintuplicar esse número em 2019, quando a proposta deve começar a expandir para outras cidades. Além das bicicletas, a Yellow lançou ainda patinetes eletrônicos. Por enquanto, são 40 equipamentos e um ponto de retirada – com mais 10 no horizonte.
Pioneiro planeja serviço em Porto Alegre
Foi com estranheza que Marcelo Loureiro viu surgir muito perto de sua casa, na Califórnia, patinetes elétricas disponíveis para aluguel. A rápida adesão dos vizinhos mostrou que o brinquedo, turbinado e utilizado como meio de transporte, era uma boa oportunidade de negócio em sua terra natal. No fim do ano passado, o paulistano encerrou sua empresa de bicicletas compartilhadas e fez as malas.
— Da primeira vez que vi, não entendi muito bem. Depois, com as pessoas usando, achei que podia ser algo interessante aqui (Brasil). São Paulo é muito congestionada, e o trânsito é um gerador de estresse brutal — relata.
Desde o começo de agosto, a Ride disponibiliza cerca de 40 patinetes em pontos privados da capital paulista. A ideia é atrair interessados em pequenos deslocamentos. A inspiração norte-americana deixou lições para o começo da operação no Brasil: diante dos problemas enfrentados por algumas prefeituras devido à utilização indiscriminada e à falta de regulamentação, a empresa tem focado em estimular o uso consciente dos dispositivos, com estações posicionadas perto de ciclovias e ciclofaixas. As patinetes também contam com placas, o que permite às pessoas denunciar maus usuários.
Segundo o fundador da Ride, no ano que vem a empresa deve expandir sua operação para outras cidades. Rio, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre são candidatas.
_ O Sul é uma região que tem um perfil de startup e coisas tecnológicas. Acho que Porto Alegre faz todo sentido _ diz Loureiro.
Febre nos EUA gera controvérsias
Jaqueline Sordi, jornalista de ZH, morou em Los Angeles durante o ano de 2017
Conhecido por suas largas avenidas e quilométricos congestionamentos, o condado de Los Angeles, na Califórnia, se transformou também em um polo de inovação quando o assunto é mobilidade urbana. Foi lá que, no final do ano passado, a start-up Bird começou a espalhar patinetes elétricas pelas calçadas e lançou o primeiro serviço de compartilhamento destes dispositivos. Em pouco tempo, as patinetes – ou e-scooters, como são chamados por lá –, passaram a fazer parte do transporte diário para curtas distâncias de quem vive e passeia na região. Mais do que o dispositivo em si, – alternativa ao já consolidado sistema de aluguel de bicicletas –, um grande atrativo é que não exige que o usuário pegue e devolva a patinete em uma estação ou ponto definido. Os aparelhos ficam largados pelas vias, e por GPS o próximo usuário localiza aquele que está mais próximo. Em pouco tempo a novidade se espalhou por outras grandes cidades dos Estados Unidos, mas trouxe junto algumas controvérsias. A reclamação sobre a "poluição visual" que as patinetes causam ao serem "largadas em qualquer lugar" passou a ser recorrente e motivou prefeituras de diversas cidades a propor regulamentações para o sistema, como uma redução no número de dispositivos. Mesmo contrariadas e sem uma solução definitiva para o problema, as start-ups que investem no setor têm se transformado na maior aposta do Vale do Silício.