Para combater o assédio e a violência contra mulheres no transporte público, uma parceria entre a Trensurb e o Comitê Gaúcho Impulsor ElesPorElas, integrante do movimento mundial da ONU Mulheres, lançou nesta segunda-feira (30) a campanha Fim da linha para a violência contra a mulher. Segundo a empresa, nos últimos três anos, foram registradas 40 denúncias de assédio nos espaços do metrô — sete delas em 2018. Não há um estudo sobre as características do assédio no transporte, mas a Trensurb acredita que o número não reflete a realidade enfrentada pelas passageiras.
Para Rodolfo Campos, coordenador do grupo Pró-Equidade de Gênero e Raça —iniciativa do governo federal que busca promover a igualdade de oportunidades e de tratamento entre sexos e etnias nas empresas — ainda há medo em denunciar.
— Esse número provavelmente é maior, porque ainda há muito receio e vergonha em denunciar. Nossa proposta é justamente incentivar as pessoas a agirem, mesmo que o assédio não esteja acontecendo com elas especificamente — explica.
Campos afirma que a empresa pode utilizar as câmeras de segurança para ajudar quem passou por situações de abuso. Ele explica que, ao sofrer assédio dentro de vagões, as vítimas podem ligar para o número fixado nos trens e informar a equipe da empresa. Na próxima estação, um segurança deve fazer uma intervenção. Depois, um boletim de ocorrência pode ser realizado pela vítima, com a ajuda da Trensurb.
Diariamente, os vagões transportam cerca de 170 mil pessoas. Moradora de Canoas, Pamela Rodrigues Machado precisava usar o serviço pelo menos duas vezes por dia quando trabalhava em Porto Alegre. Ela conta que, em horários de pico, como de manhã e no final da tarde, é visível que muitos homens se "prevalecem".
— Eles encostam, param atrás da gente, ficam perto. É horrível. E não é só por estar cheio o vagão, a gente vê quando é com maldade e quando não é — relata.
Pamela acrescenta que já teve de deixar o coletivo:
— É complicado, mas já teve vezes que preferi me atrasar do que passar por isso. Graças a Deus, não preciso mais pegar trem tanto quanto antes.
Carolina Quadros também utiliza o transporte, mas diz que nunca se sentiu assediada durante o deslocamento. Ela relata, por outro lado, casos de desrespeito no trajeto pelas ruas.
— Tem homens que esperaram chegar perto da gente na rua para falar as coisas. É uma falta de respeito, a gente se sente humilhada. O que faz uma pessoa achar que tem esse direito? — questiona.
Representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman participou da cerimônia de abertura da ação na manhã desta segunda e afirmou que Porto Alegre é a primeira cidade no país a desenvolver uma campanha desse tipo.
— O assédio é algo muito constrangedor. Quando ocorre, muitas mulheres acabam repensando se devem sair de casa sozinhas, se devem levar companhia, se precisam mudar a rota. Elas sentem que podem estar fazendo algo errado, quando a culpa é de quem assedia — explica. — A gente precisa que os homens entendam o papel deles nessa luta também.
Essa é a primeira ação da Trensurb voltada ao público externo — antes, as ações focavam funcionários da empresa. Nos próximos meses, colaboradores e seguranças devem receber mais orientações sobre como agir em situações de assédio às passageiras.
Para alertar sobre a ação, cartazes e painéis foram colocados nas dependências do metrô. As peças terão imagens com destaque para o número 180, da Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres. Uma cerimônia de abertura foi realizada na Estação Canoas, nesta manhã, e mais atividades serão realizadas ao longo dos próximos dias, como intervenções artísticas com uso de grafite e batalhas de rap em estações selecionadas.