Além do rompimento de cabo que paralisou os trens por quase cinco horas na manhã desta terça-feira (17), milhares de passageiros podem ter sofrido ainda mais com a falta de comunicação entre a Trensurb e o órgão responsável pela gestão do transporte metropolitano de passageiros, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan).
É o que diz o diretor-superintendente da Metroplan, Pedro Bisch Neto. Segundo ele, a fundação foi surpreendida pela interrupção dos trens. Os problemas começaram por volta das 6h45min, quando o sistema ficou operando em sentido único. Às 7h50min, as composições pararam completamente, voltando à atividade por volta das 12h30min.
– Existe um plano de contingência, temos documento firmado tratando disso. E já o pusemos em prática muitas vezes, como nas greves dos metroviários, por exemplo. Tudo começa com a Trensurb nos alertando sobre o problema. Nós, então, acionamos as empresas de ônibus para usarem a frota reserva imediatamente. Hoje, isso não ocorreu, houve falha de comunicação – relata o diretor-superintendente.
Ele não soube afirmar a hora exata em que a Metroplan entrou em ação, mas garantiu que foi tarde demais para impedir a maior parte dos transtornos. Quando o problema ganhou repercussão na mídia e nas redes sociais, a fundação começou a contatar as empresas de ônibus. Algumas, por conta própria, já tinham mobilizado parte da frota reserva.
– Depois que tudo isso passar, vamos formalizar um pedido à Trensurb para que faça uma avaliação do sistema de informação em caso de falha nos trens – promete Bisch Neto.
Até o começo da tarde, a Trensurb ainda não havia identificado o responsável que falaria sobre o problema ocorrido pela manhã e sobre a falha de comunicação apontada pela Metroplan.
Usuários sem informação sobre o que acontecia
Tanto quem conseguiu pegar trem antes da paralisação do transporte quanto quem permaneceu nas estações se queixou de não saber ao certo o que acontecia nos trilhos. Passageiros que embarcaram em Novo Hamburgo no começo da manhã levaram até duas horas para chegar à Capital, trecho que costuma ser feito em pouco menos de uma hora quando não há problemas.
A queixa multiplicada nas redes sociais era a mesma: falta de comunicação do operador do trem, que se limitava a informar "problemas técnicos". Quando parado em alguma estação, de portas abertas, não havia orientação sobre o que fazer, se desembarcar e procurar alternativa ou permanecer no vagão.
Como deveria ser a comunicação
Mesmo que não resolvessem o problema técnico, informações constantes ajudariam os passageiros a decidir o que fazer. Na pior da hipóteses, passariam a impressão de uma espera menor.
– Estudos na área mostram que, sem informação sobre o que está acontecendo, os usuários de transporte têm uma impressão de espera quatro vezes maior do que a real – afirma a gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil (instituição sem fins lucrativos que atua em soluções para cidades), Cristina Albuquerque.
Segundo ela, todos os possíveis problemas do modal de transporte devem ser mapeados. Para cada um deles, um plano de contingência deve ser elaborado para imediata aplicação durante uma ocorrência. Além do planejamento conjunto – prevendo reforço na frota de ônibus, por exemplo –, um sistema de comunicação multiplataforma deve ser posto em prática. Uma das medidas seria acionar imediatamente as rádios locais para comunicar o maior número de pessoas possível.
– E, no caso dos usuários mais fiéis, usar o sistema de aplicativos, se houver, para alertar sobre o problema. Deve-se pensar em quem está dentro e fora do trem. Essas pessoas devem ficar esperando? Devem procurar outro transporte? – destaca Cristina.