Passear nas proximidades da Usina do Gasômetro e assistir ao famoso pôr-do-sol do Guaíba, em Porto Alegre, pode custar caro. Guardadores de carros cobram até R$ 20 para prestar seu serviço, com permissão do motorista ou mesmo contra a vontade dele. Na maioria dos casos, não é dada opção.
— Custa R$ 20. É o meu preço — diz um homem que veste colete escrito Sindicato dos Guardadores de Automóveis de Porto Alegre.
Questionado sobre o valor alto cobrado, ele justifica de forma curiosa.
— É que sou sindicalizado. De confiança — pondera.
No início da semana, a situação havia sido publicada pelo colunista Tulio Milman.
Neste sábado, 4, a reportagem de GaúchaZH, sem se identificar, percorreu cerca de 300 metros nas proximidades da Usina do Gasômetro, nas proximidades da praça Julio Mesquita, um novo espaço de lazer da Capital. Foi abordada por quatro diferentes flanelinhas — cada um com um preço diferente. O primeiro, um senhor de idade, ofereceu uma vaga embaixo de árvores, próximo ao muro do antigo cais do porto.
— Sai por R$ 10. Pode pagar depois, sem problema — anunciou.
O segundo flanelinha é o que cobrou R$ 20.
O terceiro pediu R$ 15. — É o preço aqui, senhor. Afinal, no melhor ponto, em frente ao rio... — alegou. O quarto flanelinha solicitou R$ 5.
Acontece que no local onde eles estipularam o preço é proibido estacionar. Eles encaminham os carros para o meio-fio da própria Avenida João Goulart, no lado do Gasômetro, onde não há previsão para que veículos possam sequer parar (muito menos estacionar). No fim de semana vigora uma espécie de tolerância, já que logo após esse ponto a via é interrompida por cavaletes e transformada num passeio à beira do Guaíba.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) até pretende liberar o local para que carros estacionem ali entre as tardes de sábado e noites de domingo, mas isso ainda não foi estabelecido.
Todos os guardadores, menos o primeiro, disseram que o preço é cobrado adiantado para quem deseja deixar o carro ali. A ação dos flanelinhas acontece inclusive próximo a PMs. Soldados do 4º Regimento de Polícia Montada, a cavalo, faziam patrulhamento a 50 metros do local onde os guardadores atuam.
A reportagem falou com frequentadores do Gasômetro, que se mostraram revoltados com a situação. Rodrigo D'Almagro tentou estacionar o carro e foi abordado por um guardador, que exigiu R$ 15.
- Pô, da fora do senso - reclamou Rodrigo.
- Então deixa R$ 10 aí, vai - retrucou o flanelinha.
Rodrigo insistiu que não ia deixar nada. "Aqui é de graça, tu não pode cobrar", explicou o motorista.
O guardador, então, disse "Então libera a minha vaga aí", enfatiza Rodrigo:
- Foi bizarro. Tirei o carro e botei em outro lugar.
Um outro motorista, que estava com mulher e dois filhos, veio de Sapiranga passear na orla do Guaíba e pagou R$ 20. Diz que fez isso por questão de segurança.
— A gente não sabe o que eles podem fazer com o carro depois, né... Deveria ter alguma fiscalização. A gente pagou porque não sabe como funciona as coisas aqui. Ainda se fosse o poder público cobrando pela vaga, mas os flanelinhas privatizaram — reclama.
A Brigada Militar promete agir.
— É um problema que surgiu com mais gravidade agora, depois que as vagas em cima da área do parque foram fechadas. Faremos fiscalização — anuncia o tenente-coronel Rodrigo Mohr, do 9º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento da área central de Porto Alegre.
A EPTC diz que o local onde a cobrança dos flanelinha foi flagrada pela reportagem é proibido estacionar e também pretende fiscalizar.