— Já não basta a insegurança, agora ficamos no escuro.
A reclamação é do comerciante Arisoli Moisés Weidenfeld Palma, 48 anos. Ele é dono de uma livraria na loja 24 do Viaduto Otávio Rocha, um ponto histórico da Avenida Borges de Medeiros e da região central de Porto Alegre. O livreiro está há mais de duas semanas sem energia elétrica no seu estabelecimento. Além dele, outras sete lojas também estão no escuro.
— É uma vergonha, não tem como a gente trabalhar sem luz. O cliente passa na frente e acha que nem estamos atendendo. O movimento, que já era pouco, diminuiu ainda mais.
O problema teve início em 21 de março, quando bandidos arrombaram um dos banheiros do viaduto durante a madrugada e furtaram toda a fiação das caixas de luz que ficam no local. Além do crime, eles ainda depredaram os banheiros, como conta Arisoli.
— No dia seguinte, chamamos um amigo eletricista para fazer um conserto provisório. Mas, na mesma noite, os criminosos voltaram e roubaram o resto dos fios — recorda o comerciante.
— Quando levaram a fiação, acabaram com nosso comércio. Fica difícil a gente se virar sem luz — afirma a comerciante Tânia Bordignon, do Armazém do Viaduto.
Abandono
Desde o furto, as lojas afetadas pelo corte forçado de energia estão tendo rotinas alternadas. Os horários de trabalho diminuíram, e quem se arrisca a abrir as portas acaba trabalhando na calçada, como no caso de Rafael Brum, 40 anos, dono de uma floricultura e bazar instalada no viaduto da Borges.
— A loja está totalmente escura, não tenho como receber clientes. Então, para não deixar fechado, estamos atendendo na calçada mesmo — conta.
O comerciante relata um sentimento de abandono no local que, na opinião ele, poderia ser mais frequentado pela população da cidade:
— Mesmo isso aqui sendo um espaço público, não nos sentimos acolhidos pela prefeitura. O abandono da administração municipal é muito grande, desde que levaram os fios, não recebemos posicionamento algum.
Arisoli, que mantém sua livraria no local há 23 anos, também não sabe mais a quem recorrer. Ele garante que os locatários prejudicados pelo furto procuraram a polícia para registrar ocorrência sobre o caso. Além da prefeitura, o comerciante diz que a CEEE também foi informada. Entretanto, sem receber retorno algum, eles só enxergam dias mais escuros pela frente.
Prefeitura tomou "ciência da situação"
Segundo a CEEE, a responsabilidade pela fiação interna que foi furtada é dos proprietários do local. Como os fios ficavam no interior de um dos banheiros do viaduto, a prefeitura, responsável pelo viaduto Otávio Rocha, foi procurada para esclarecer a situação. Os comerciantes ocupam as lojas em uma relação de concessão dada pelo paço municipal, ou seja, pagam aluguel à prefeitura.
Na final da tarde de sexta-feira, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico informou que "tomou ciência da situação" e que "técnicos da prefeitura já estão trabalhando para levantar as dimensões dos danos e adotar as medidas necessárias para restauração das instalações". Não há uma estimativa de prazo para que a energia elétrica volte a ficar disponível para os comerciantes.
De quem é a responsabilidade pelos fios
— Segundo a CEEE, a fiação de responsabilidade da concessionária é aquela que sai da poste e vai até o relógio de luz. Deste ponto até o interior da residência ou comércio consumidor, a responsabilidade é de morador ou proprietário.
— Em casos de furto do medidor de luz, é necessário registrar Boletim de Ocorrência e se dirigir até uma agência da Ceee com o BO para pedir o ressarcimento do relógio.
— A fiação dos postes que é responsável pelo funcionamento da iluminação pública é de responsabilidade da prefeitura, assim como a manutenção das lâmpadas e luminárias.
Fontes: CEEE e SMSUrb
*Produção: Alberi Neto