Eles são amarelos em Nova York. Em Londres, pretos. Em Porto Alegre, ostentam um vermelho puxado para o laranja — coloração difícil de definir, mas possível de identificar de longe. Pelo menos, foi assim nos últimos 45 anos.
A aprovação de uma emenda pela Câmara Municipal na quarta-feira (28) pode transformar a fotografia do trânsito da Capital ao trocar o vermelho ibérico (como define a lei em vigor) dos táxis por branco. A proposta ainda precisa ser sancionada pelo prefeito Nelson Marchezan, mas como um dos autores é o líder de governo na Câmara, Moisés Barboza (PSDB), a tendência é que seja mantida.
A mudança foi solicitada pela própria categoria por questões de economia. Presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari argumenta que custa cerca de R$ 2,5 mil para adequar um carro à cor destacada, o que ainda implica em desvalorização do veículo. Além disso, o fim da era dos táxis vermelho-alaranjados é simbólica, segundo Nozari. Representa as adequações necessárias para o serviço sobreviver à disseminação dos transportes por aplicativo (como Uber, 99 Pop e Cabify).
— A alteração da cor simboliza uma mudança muito mais profunda da postura do taxista, da forma de se vestir, do trato com o passageiro, que agora não é mais passageiro, é um cliente que eu quero fidelizar — explica.
A medida enfrentou resistência na Câmara: recebeu 16 votos a favor e 11 contra. Vereador de oposição, Alex Fraga (PSOL) é contrário ao abandono da cor chamativa, que pode até diminuir a demanda pelo serviço, na avaliação dele.
— Fico preocupado com o principal usuário do táxi: a pessoa idosa, que tem uma redução na capacidade visual. Até brinquei que acho a cor horrorosa, mas justamente por ser horrorosa é positiva para esse perfil de usuário. Agora, se colocar na cor branca, o táxi pode ser confundido com vários outros veículos — diz.
Representantes da categoria de taxistas sustentam que "atacar" um táxi na rua — antes uma das principais formas de contratar o serviço — está caindo em desuso. O presidente da Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi de Porto Alegre (Aspertáxi) , Walter Barcellos, estima que hoje a prática resulta em no máximo 10% das corridas, muito em razão do avanço da tecnologia.
Não é a primeira vez que a mudança de vermelho ibérico para branco é debatida na Câmara — já foi proposta em 1994 e na década seguinte. Durante a discussão em 2003, Barcellos, à frente do então Sindicato dos Taxistas Autônomos de Porto Alegre (Sintapa), era contra: destacava que a cor era uma tradição e não havia vantagens para a alteração. Agora o cenário mudou, defende ele.
— Se estou ganhando menos, eu tenho que gastar menos.
O abandono do vermelho ibérico, instituído em 1973 como a cor oficial, deve ser tão emblemática para a fisionomia dos táxis quanto o desaparecimento dos Fuscas da frota. Algumas décadas atrás, o carismático veículo da Volkswagen era maioria absoluta no serviço — incluindo o primeiro táxi de Barcellos, há 32 anos. Como o veículo só tinha duas portas, era retirado o banco da frente, o que permitia apenas três passageiros. Sacolas de compras e malas iam no vão ao lado do motorista.
Nozari relembra que os Fuscas foram perdendo a popularidade no serviço na década de 1990 em razão do conforto. Passageiros começariam a exigir ar-condicionado e quatro portas, o que depois também viraria norma.
— Aquele símbolo que era uma fila de táxis Fuscas laranjas foi paulatinamente diminuindo — comenta.
Se a mudança da cor for sancionada, os táxis deverão providenciar a adequação em até 24 meses, contados a partir da publicação. Elementos visuais como a placa luminosa deverão ser mantidos. A categoria, porém, é contra o prazo.
— O taxista vai operar por ocasião da substituição do veículo, senão o sujeito que comprou o carro hoje vai ter que ou trocar ou pintar. Ele vai pintar um carro laranja de branco? Isso é totalmente contra o objetivo da lei (redução de custos) — protesta Nozari.
A emenda aprovada não dá detalhes sobre a fisionomia do carro, mas o presidente do Sintáxi afirma que deverá ser como os táxis do aeroporto.