A transexual Luisa Stern (PT) tomará posse como vereadora de Porto Alegre no dia 7 de março, em cerimônia de posse na Câmara. Será a primeira vez que uma pessoa transgênero assumirá cadeira no parlamento da capital gaúcha, diz Luisa.
— Em Porto Alegre, com certeza é a primeira vez. Ainda estamos pesquisando se isso já aconteceu em outras capitais — explica a advogada de 51 anos.
Com a memória de quem exerceu dez mandatos na Câmara, entre março de 1971 e dezembro de 2012, o ex-vereador e ex-prefeito João Dib concorda:
— Não conheço, em todo esse tempo, nenhum outro caso. É a primeira vez.
Luisa explica que pretende fazer um discurso de caráter universal, pautado pela discussão acerca dos direitos humanos e LGBT, que estão inseridos em uma forte dicotomia na sociedade, ganhando espaços por um lado, mas sofrendo forte oposição de outro.
— O mundo vive uma onda reacionária. A minha posse já é um feito por si só, uma quebra de barreira, de paradigma e amostra de resistência. Em relação a projetos, estamos conversando com o movimento social para verificar o que é possível apresentar dentro da pauta municipal. Não adianta ingressar com projeto para criminalizar o preconceito se isso é prerrogativa do Congresso — explica.
O mundo vive uma onda reacionária. A minha posse já é um feito por si só
LUISA STERN
Advogada
Natural de Porto Alegre, Luisa conta que iniciou sua transformação há 15 anos, se assumindo definitivamente como mulher uma década atrás. Ela passou pela cirurgia de mudança de sexo em 2013, no Hospital de Clínicas, em procedimento assegurado pelo SUS.
— Na maioria da população, o preconceito tem diminuído, temos conquistado mais espaços. À medida que avançamos e nos tornamos mais visíveis, os grupos preconceituosos se tornam mais raivosos na tentativa de barrar. É uma contradição — avalia.
Data foi escolhida por conta do Dia Internacional da Mulher
A posse de Luisa irá ocorrer porque o PT de Porto Alegre adotou um sistema de rodízio entre os seus vereadores. Periodicamente, sobretudo em datas alusivas a alguma bandeira da sociedade, os quatro parlamentares titulares se licenciam do cargo por três dias para dar oportunidade de o suplente ir à tribuna e protocolar projetos de lei. Quando o suplente escolhido para assumir está mais para o final da fila, de acordo com a votação obtida, é preciso que os melhores colocados assinem as desistências.
— É um negócio bacana. O suplente colaborou para eleger a bancada. É uma chance para ele. Não gera ônus para a Câmara, a licença que tiramos não é remunerada. Perdemos (os titulares) três dias de salário, mas faz parte — diz o vereador Adeli Sell (PT).
Luisa, que tem a deputada federal Maria do Rosário como uma das referência no PT, obteve 523 votos na eleição de 2016. O partido decidiu empossá-la na véspera do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, como uma simbologia dos direitos dos trans. Uma segunda petista, Natália Alves, também tomará assento na Câmara no sistema de rodízio. Elas irão desempenhar os cargos entre 7 e 9 de março. Nos três dias, quem se licenciará para ceder as vagas serão os vereadores Marcelo Sgarbossa e Aldacir Oliboni.
— A ideia é dar oportunidade ao máximo de suplentes — diz Oliboni, líder da bancada.