Há pouco mais de um ano, a estudante de Administração Jéssica Tuane Oliveira Parra, 24 anos, não se imaginaria levantando cedo em um domingo para, com centenas de mulheres, vestir rosa e sair em caminhada pelas ruas de Porto Alegre para conclamar uma luta coletiva contra o câncer de mama. Na manhã deste domingo (29), o último do Outubro Rosa, ela estava a postos no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre, na Caminhada das Vitoriosas 2017.
- Precisei passar pelo câncer para conhecer o quanto essa causa é bonita. Estou aqui para ajudar com a minha experiência e mostrar que essa é uma luta de todo mundo - disse a jovem, ainda em recuperação por conta da recente cirurgia de reconstituição das mamas.
Mulheres jovens como Jéssica são um dos alvos da campanha deste ano do Imama-RS, que quer chamar a atenção para a importância da prevenção da doença e do autoconhecimento desde cedo, já que têm sido observados casos de câncer de mama em faixas etárias inferiores aos 40 anos. Os homens foram incluídos nas ações de conscientização.
Com o tema Pacientes no Controle, as ações reforçaram o papel fundamental da informação na condução e no sucesso das medidas de prevenção e nos próprios tratamentos. A presidente voluntária do Imama-RS, Maira Caleffi, destaca que o empoderamento proposto pela campanha deste ano estimula que as pacientes questionem médicos e outros profissionais de saúde para que não fiquem em dúvida sobre sua condição. Além disso, a ideia é reforçar o compartilhamento de experiências.
- Na hora de batalhar novas causas, tem de ser o paciente. É a atitude dele que muda tudo - diz a mastologista, que também é chefe do setor de mastologia do Hospital Moinhos de Vento.
Na Caminhada das Vitoriosas, que seguiu do Parcão até a Redenção, mulheres que venceram a doença se juntaram a amigos, familiares ou simplesmente admiradores da causa para celebrar conquistas. Entre elas, a empresária Moa Linden, 58 anos, que em 2003 travou uma luta contra o câncer e faz questão de, todos os anos, levar sua história para a rua.
- Esse é um dia que ninguém me tira. Eu ouvi meus médicos e a experiência de outras mulheres. Essa informação nos fortalece. Não podemos estar nunca desligadas - disse.
Em frente ao trio elétrico que animava os participantes, Denise Sbrissa, 63 anos, acompanhava as coreografias e trocava sorrisos com o mar rosa que se formava a sua volta. Estava ali em solidariedade à amiga Iolanda Klaic, 50 anos, diagnosticada em 2015 e cujo tratamento se encerrou no ano passado.
A coach Elisabete Marques, 59 anos, juntou-se à dupla para registrar em uma foto o que se estabelece entre as vitoriosas. Ela teve câncer e, a partir de sua vivência, resolveu voluntariar-se no Imama-RS.
– A gente pensa que está ajudando, mas na verdade está é se fortalecendo – disse.
A caminhada, um dos últimos eventos do Outubro Rosa deste ano, comemorou conquistas coletivas, como o projeto POA Rural, em que cerca de 2 mil famílias da área rural de Porto Alegre passarão a ser acompanhadas pelo Imama-RS, com apoio de entidades parceiras, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). As mulheres dessa região serão levadas para consultas e exames.
Outra vitória, segundo Maira Caleffi, é a criação da Frente Parlamentar pelo Câncer da Mulher, na Assembleia Legislativa. O grupo, dentro da Comissão de Saúde, terá como missão compreender o porquê de o Rio Grande do Sul, apesar da reconhecida competência de médicos e da tecnologia disponível, não reduzir a mortalidade por câncer de mama, como já ocorre em Santa Catarina, por exemplo. A média nacional é de 50 mortes em 100 mil mulheres, enquanto em Porto Alegre a proporção é de 125/100 mil e no Estado é de 84/100 mil.
- O Estado tem de olhar para o seu umbigo e cuidar das gaúchas - alerta Maira.