Por volta do meio-dia de terça-feira (19), uma mulher de baixa estatura, cabelos curtos e postura encurvada chegava a passos curtos para tomar assento em uma das duas salas da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. Não era a primeira vez no dia que Delfina Santos, 67 anos, passava por ali — estava em sua terceira sessão de pintura nas folhas em tamanho ofício acomodadas à sua frente. Cada lenta pincelada era intercalada pela análise atenta de um pacote de biscoitos ou de uma embalagem de ducha elétrica e um sorriso silencioso a quem a observava à distância. O que a artista expressava no papel, porém, tinha pouco a ver com o que via dentro da sala. Em traçado que remetia a um desenho infantil, figuras humanas soltas ao lado de janelas predominavam nas imagens.