Para deixar de atuar nas dependências de um antigo bar na Vila Valneri Antunes, Bairro Mario Quintana, em Porto Alegre, a Associação Beneficente Casa da Vovó e Netinhos (ABC) precisa de muitas mãos. Criado há 32 anos, o projeto destinado a crianças e adolescentes carentes de uma das regiões mais violentas da cidade atende numa sala, alugada por R$ 300 mensais (entre energia elétrica, água e aluguel). Agora, a entidade lançou uma ação num site de financiamento coletivo – uma vaquinha na internet – na tentativa de arrecadar o valor que considera necessário para erguer as instalações.
O terreno já existe e foi doado há quase dois anos, depois de uma reportagem publicada no Diário Gaúcho que mostrou o trabalho da entidade idealizada pela metalúrgica aposentada Maria Mercedes de Paula, 63 anos. No antigo bolicho, cerca de 40 crianças recebem auxílio para melhorarem no português, na matemática e no inglês, no horário inverso ao da escola. Uma biblioteca com mais de 100 livros, formada a partir de doações, auxilia no aprendizado. Mães e avós participam de atividades que vão de oficinas de costura e artesanato a palestras gratuitas dos mais diversos temas. E, aos sábados, 25 jovens participam das aulas de futebol no campinho da vila. Para manter as atividades, a ABC conta com doações e o lucro do brechó feito uma vez por mês no prédio onde hoje funciona a entidade.
– Comecei modestamente, mas sempre com o sonho de deixar um legado para as próximas gerações. Não é nada para mim. É para eles – afirma Maria Mercedes, enquanto aponta, emocionada, para os pequenos dispostos nas três mesas da sala de aula improvisada.
Por duas décadas, o projeto funcionou numa igreja da própria comunidade. Depois do fim da parceria, restou alugar o espaço antes destinado a um bar e pertencente a um familiar dela.
No sonho de Maria Mercedes, a nova sede da entidade terá aulas de informática e espaço para teatro, dança e outras expressões culturais, além do que considera fundamental para manter as portas abertas: o amor dos voluntários. A Associação, que comemora nesta semana um ano com CNPJ, precisa arrecadar mais de R$ 300 mil. Na campanha da internet, o prazo para apoiar vai até 15 de novembro deste ano. Até ontem, havia sido arrecadado apenas R$ 710.
– Sei que é muito difícil conseguirmos a quantia toda, mas o que recebermos já ajudará a manter a vontade viva. Não vamos desistir – garante a idealizadora.
Terceira geração de assistidos
Maria Mercedes tem motivos para seguir acreditando. As irmãs Stéfani e Natália Correa, de 11 e 13 anos, respectivamente, frequentadoras das atividades há quatro anos, são um deles. Foi no projeto social que ambas passaram a gostar de estudar. Ajudante deste semestre – uma espécie de auxiliar de Maria Mercedes nas tarefas de aula – Stéfani mudou, inclusive, o comportamento na escola onde estuda.
– Depois que virei a secretária da turma, percebi como eu fazia bagunça. Não parava quieta. Agora, estou mais concentrada. Na escola, só tiro 10 em matemática – conta a estudante do sexto ano, que sonha ser engenheira civil.
Natália, aluna do sétimo ano, descobriu na Associação que matemática e português não são disciplinas ruins. A menina, cujas notas eram abaixo de 6 em ambas, melhorou o aproveitamento no colégio e já pensa em ser professora.
Feliz de estar na terceira geração de assistidos, Maria Mercedes acredita na força da solidariedade e comemora quando um ex-aluno, hoje adulto, volta para agradecer o auxílio dado na infância. Quase silenciosamente, a aposentada vem transformando o caminho de quem passa pela sala de madeira localizada na Rua 7 da Vila Valneri Antunes.
Para ajudar na vaquinha online
/// Pelo site: www.catarse.me/projetonossacasa
/// Contatos com a entidade: fones (51) 99231-6973, (51) 98210-6445 e (51) 98505-1351 e www.facebook.com/clubedavovoenetinhos