Depois de um mês perambulando por prédios abandonados de Porto Alegre, as cerca de 20 famílias da Ilha do Pavão que fugiram da violência na região e acabaram tendo as casas destruídas pela concessionária Triunfo Concepa ganharam um teto, ainda provisório. Abrigadas num prédio cedido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que não pode ter o endereço divulgado por questões de segurança, elas começaram a ser cadastradas pela Fasc para terem as necessidades supridas, principalmente, comida e roupas. No grupo, são mais de 50 crianças com até 12 anos de idade. Segundo a Secretaria, todos ficarão no local por tempo indeterminado.
No final de junho, parte das famílias teria sido expulsa da Ilha pelo tráfico. A outra, saiu por medo dos tiroteios diários. Com a intenção de retornarem em algum momento, deixaram os móveis e até cachorros nas casas, sob os cuidados dos vizinhos que continuaram na Ilha. Quando decidiram retornar, depararam com tratores e caminhões demolindo as casas de madeira da entrada da Pavão. Elas afirmam terem sido surpreendidas com a demolição das moradias, que começou em 15 de agosto, numa ação envolvendo a concessionária da rodovia, Triunfo Concepa, e desaprovada pelo Ministério Público. Até os postes comprados por R$ 800 para a instalação da energia elétrica haviam sido levados.
Sem ajuda do poder público, passaram a ocupar um galpão abandonado, sem água, luz ou sanitários nas margens da freeway. O pintor Lucas Souza, 30 anos, que nasceu e se criou na Ilha, foi um dos que decidiu fugir por temer pela vida dos filhos de dez e 11 anos. Na sexta-feira, ele comemorava a nova mudança. Desta vez, para um lugar com banheiro, portas, janelas e teto.
– Aqui, pelo menos, temos um teto para abrigar nossos filhos. A gente espera que a prefeitura encontre uma solução para o nosso problema – comentou, enquanto ajudava os vizinhos com a mudança do pouco que restou para cada um.Casas
Ao tomar conhecimento da ação, na quinta-feira passada, o promotor da Promotoria da Ordem Urbanística de Porto Alegre, Cláudio Ari Melo, condenou a decisão. Ele visitará as famílias na próxima segunda-feira para dar seguimento ao expediente que investigará a ação da concessionária.
– São famílias que viviam numa ocupação consolidada há décadas. Mesmo que não estivessem nas suas casas, havia a possibilidade do retorno. Foi uma solução radical – afirmou.
Por meio de nota, a Triunfo Concepa informou que as casas demolidas estavam vazias e que há fotos e vídeo mostrando a situação de cada uma no momento da destruição. Houve cercamento da área e placas foram instaladas indicando que não se pode utilizar o espaço. A concessionária ressaltou que houve uma reunião envolvendo atuais moradores da Ilha e representantes do Centro de Relações Institucionais e Participativo Ilhas, ligado à Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Apesar de a Triunfo Concepa afirmar que a prefeitura sabia da demolição das casas, a secretária municipal de Desenvolvimento Social, Maria de Fátima Palludo, disse desconhecer a situação.
A concessionária alega que os moradores solicitaram ajuda para a demolição das casas e para mudança para outros locais. Eles temiam que as casas fossem invadidas por outras pessoas, já que estavam ocorrendo saques nas moradias. Foram removidas 16 moradias e os entulhos que restaram após incêndios que aconteceram.