Se nem com sol quem anda pela Capital está protegido, a sensação de insegurança aumenta à noite. Ruas escuras e lâmpadas apagadas são recorrentes em vários bairros, como constatou a reportagem de ZH em um giro na noite de quinta-feira passada (dia 22).
Sem iluminação pública, a boa vontade de moradores é o que mantém o mínimo de visibilidade em uma rua do bairro Boa Vista. A Waldemar Canterji, via de uma quadra entre a Plínio Brasil Milano e a Alcídes Gonzaga, não tem postes de luz. Por isso, em duas residências e dois pontos comerciais, foram instaladas lâmpadas e refletores voltados para a rua.
– Tentamos iluminar o máximo possível e botamos uma câmera – conta Sheila Torrico, sócia-proprietária da lancheria 14 Bis, relatando que, ainda assim, há muitos casos veículos arrombados.
Os refletores providenciados não dão conta de iluminar completamente a rua, porém, graças a eles, o estudante Guilherme Jung, 19 anos, não reparou na ausência de postes ao passar por ali. Mas relata que é grande a sensação de insegurança.
– Esses dias, fui assaltado em uma rua parecida com esta. Cinco bandidos saíram de trás dos arbustos e levaram meu celular e minha carteira – conta.
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Em dois quarteirões, no limite entre o Moinhos de Vento e o Mont’Serrat, ZH flagrou quatro lâmpadas apagadas na noite de quinta: duas na esquina da Quintino Bocaiúva com a Mostardeiro, uma na Coronel Bordini e uma na Anita Garibaldi. Nesta última, que é muito arborizada, um foco de luz a menos já torna a subida do morro uma experiência sombria – literalmente. Lorival Miguel, porteiro em um prédio no local, disse que o problema persiste há mais de 20 dias.
Na Zona Sul, um ponto crítico é a Rua do Santuário. Há uma sequência de postes instalados próximo ao Santuário Mãe de Deus, mas eles não têm iluminação. O breu continua na Estrada das Furnas. Moradores ressaltam que o local é usado por criminosos para desovar corpos, e acreditam que a escuridão corrobora para isso. O padre Danilo Bulegon, que atua no Santuário, atesta que é crítico o problema de falta de iluminação:
– Quando escurece, não saímos mais.
Em um quilômetro da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em praticamente todo o trajeto junto às obras da orla do Guaíba, a reportagem constatou que os postes também existem, mas sem iluminação. Há apenas luz no sentido bairro-Centro, junto ao Parque Harmonia. Segundo a Secretaria de Serviços Urbanos (Surb), a escuridão nesse ponto se deve justamente às obras no local, mas "já está sendo providenciada a reativação".
Sobre os outros locais abordados, a pasta informou que a Divisão de Iluminação Pública (DIP) faria vistorias ainda na sexta-feira à noite e que, nos pontos apagados, "o conserto será incluído na programação para manutenção imediata". Referente à instalação de novos pontos, a secretaria afirma que "há o registro de protocolos com essas demandas, e estão sendo estudadas as possibilidades de atendimento dessas solicitações".
As reclamações devem ser realizadas pelo fone 156. Além de fazer vistorias nos pontos registrados por esse canal, a DIP realiza rondas, segundo a Surb. Recentemente, os trabalhos sofreram atrasos por falta de materiais, como lâmpadas – a assessoria de comunicação afirma que o problema não era escassez de verbas, mas questões burocráticas relacionadas à aquisição dos materiais.
O projeto apresentado pelo prefeito Nelson Marchezan para a iluminação pública é a realização de uma a Parceria Público Privada (PPP). A expectativa do secretário de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi, é de que em um mês seja assinado um contrato de consultoria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele relata que o banco já realizou licitação para contratar técnicos que vão apoiar o projeto.
– Isso permitirá a antecipação de investimentos que seriam feitos entre 10 e 15 anos para dois ou três anos – diz Vanuzzi.
O secretário afirma que um objetivo da consultoria é identificar as vias que precisam de iluminação no passeio ou na faixa de rolamento, e destaca que áreas de convivência também devem ser beneficiadas. A expectativa é de que a licitação para contratação de uma concessionária saia no primeiro semestre de 2018.
43 queixas registradas em 30 dias
Os problemas com a iluminação pública estão entre os campeões de reclamações publicadas no aplicativo Pelas Ruas, iniciativa conjunta de Rádio Gaúcha, Zero Hora e RBS TV. Nos últimos 30 dias, foram 43 queixas a respeito de ruas escuras e lâmpadas apagadas. Na descrição do problema em uma das postagens, um leitor desabafou, sintetizando o sentimento de muitos: "Escuridão total, mas a cobrança de iluminação pública está sempre na conta".
O Pelas Ruas completou três meses em operação na última sexta-feira. Já conta com mais de 12,6 mil usuários, tendo recebido mais de 3.650 publicações. Pelo menos 370 problemas denunciados foram resolvidos após as postagens. Só no site de Zero Hora, já foram publicadas 60 notícias a partir de reclamações no aplicativo.
Por meio da plataforma colaborativa, o cidadão pode utilizar o celular para apontar o que não está bom na cidade, postando foto, local e descrição. A administração do aplicativo é feita pela editoria de Porto Alegre, de ZH, que pode informar aos leitores os desdobramentos de suas postagens, entrar em contato para buscar mais informações e publicar links de reportagens surgidas a partir da reclamação.
O app é totalmente gratuito: basta entrar na App Store ou na Play Store e buscar o aplicativo pelo nome. Após, o usuário faz o cadastro com a conta do Facebook ou do Google.
Pelas Ruas em números*
12.707 usuários;
3.680 publicações;
372 problemas resolvidos.
*Até a noite deste domingo (25)