Mais de um ano depois de pararem de circular por problemas mecânicos, cinco vagões da nova frota da Trensurb – mais econômicos e equipados com ar-condicionado – seguem sem previsão para voltar a transportar passageiros.
Segundo a Trensurb, o prazo fixado pelo Ministério Público Federal (MPF) para a retomada (20 de maio) não deve ser cumprido. A empresa e o consórcio FrotaPoA, responsável pelo equipamento, devem se encontrar para discutir um novo cronograma no próximo dia 23.
Infiltrações em rolamentos da frota adquirida por R$ 242,6 milhões exigiram que 15 trens novos saíssem de operação, em abril de 2016. Dez deles já voltaram a funcionar.
Foi a segunda vez, em pouco mais de um ano e meio, que os mesmos carros ficam estacionados no pátio da empresa. A primeira, em abril de 2015, foi motivada por um descarrilamento das composições, que começaram as operações comerciais em setembro de 2014.
Procurados pela reportagem, Trensurb e o consórcio FrotaPoA, formado pelas empresas Alstom e CAF, não informaram o motivo do atraso no prazo de entrega dos veículos que faltam – que já foi estendido duas vezes junto ao MPF. Em nota, o FrotaPoA informou apenas que "está trabalhando em estreita colaboração com a Trensurb para retificar os pontos identificados, a fim de recolocar rapidamente em serviço comercial as composições", e que "os trens se encontram em assistência técnica dentro do prazo de garantia".
No final do mês de abril, o MPF, que abriu um inquérito civil para investigar a situação, enviou um ofício ao diretor-presidente da Trensurb, Francisco Hörbe, cobrando informações sobre a situação dos novos vagões. Segundo o procurador Celso Tres, o documento foi ignorado pela companhia.
– A nova direção sequer respondeu aos questionamentos. Vamos aguardar, porque existe um compromisso firmado desde o ano passado, e não sabemos se o cronograma está sendo cumprido. Senão tiverem uma justificativa para o atraso, serão alvo de uma ação de improbidade – sinalizou o procurador Celso Tres.
No ano passado, a Trensurb anunciou que multou o consórcio responsável pela construção dos novos trens em R$ 2,4 milhões – o valor é referente a 1% do total do contrato de aquisição dos veículos. Além da multa, a companhia informou que cobraria do consórcio todo o valor gasto a mais com a utilização dos veículos antigos, que exigem maior manutenção e consomem mais energia que os modelos novos. Até janeiro, a Trensurb já acumulava R$ 700 mil em multas pelo gasto excessivo com energia.
Os 15 novos trens têm gasto energético cerca de 30% inferior aos atuais, sistema de ar condicionado, comunicação multimídia, iluminação com LED, sistemas de autodiagnóstico e monitoramento de falhas. Também permitem o acoplamento de vagões – em horários de pico, juntar dois trens em uma composição de oito carros para dobrar a capacidade de transporte de cada viagem.
Cada novo trem custou R$ 14,7 milhões. O contrato para fabricação dos novos veículos foi assinado em novembro de 2012. A vida útil mínima das composições deve ser de 30 anos.
Cade apura suspeita de cartel em aquisição de trens
Iniciado em 2014, um processo administrativo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) apura a suspeita de cartel na aquisição de 15 trens pela Trensurb para operação em Porto Alegre. Além do Rio Grande do Sul, as empresas também ganharam a concorrência para fornecer mais 10 unidades, por R$ 171,96 milhões, para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), em Belo Horizonte.
A apuração inicial encontrou "fortes indícios" de acerto de preço para eliminar a competição na compra dos veículos pelo governo federal nas duas capitais. Ambas as licitações ocorreram entre outubro e novembro de 2012 e só tiveram propostas da francesa Alstom e da espanhola CAF, que revezaram o controle dos consórcios, batizados de FrotaPoA e FrotaBH. O Cade informou que o processo segue em andamento.