As negociações da companhia chinesa China Railway First Group (CRFG) com o governo federal para viabilizar a concessão da Trensurb em troca da implantação do aeromóvel envolvem um empresário com condenações na Justiça Federal por fraude e apropriação indébita.
Taiwanês naturalizado brasileiro, Chhai Kwo Chheng foi condenado pela Justiça Federal do Maranhão a 20 anos de prisão no ano passado e recorre em liberdade. Ele foi contratado pela CRFG para ajudar a destravar o plano chinês de remodelação do transporte público na Região Metropolitana. Apresentado como diretor comercial da empresa no país, Chheng participou de reunião com o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro das Cidades, Bruno Araújo, semana passada, para discutir o projeto de mobilidade urbana na Grande Porto Alegre.
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A condenação com pena de prisão, segundo o tribunal maranhense, é por crimes como "obter financiamento em instituição financeira mediante fraude" e "aplicar recursos provenientes de financiamento obtido com instituições oficiais em finalidade diversa da prevista em lei ou contrato". Conforme a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), um projeto de Chheng de criar um polo de confecção na Grande São Luís era, na verdade, "uma fraude idealizada pelo acusado e outras pessoas com a finalidade de obter uma grande quantia de dinheiro junto às instituições financeiras oficiais".
Segundo o MPF, R$ 15 milhões de um total de R$ 24 milhões repassados pelo Banco do Nordeste para a iniciativa foram desviados – e o projeto fracassou. Além de Chheng, outras nove pessoas foram condenadas. O representante da CRFG ainda responde a outro processo no Maranhão por um projeto semelhante realizado no município de Rosário. Antes disso, já havia sido sentenciado a quatro anos e dois meses de prisão pela Justiça Federal do Ceará por "apropriação indébita previdenciária" (deixou de repassar para a Previdência as contribuições de empregados durante três anos).
Chheng nega ter desviado recursos:
– No Maranhão, levei empresários para investir a convite da Roseana Sarney. Minha empresa forneceu equipamentos para o projeto, mas, como o programa para geração de empregos não deu certo, acharam que tive culpa.
Em relação à condenação por apropriação indébita, afirma:
– Eu tinha uma empresa para produzir máquinas de costura. Fechei a empresa, mas o contador não atentou em pagar os impostos.
Em nota, a CRFG esclarece que Chheng "foi contratado, como profissional autônomo, (...) para a prestação de serviços no que tange a auxílio no desenvolvimento de projetos locais, em virtude de sua fluência na língua portuguesa, bem como de sua experiência por residir no Brasil por mais de 40 anos. Desse modo, considerando tais habilidades e o interesse da CRFG na continuidade de importantes projetos de mobilidade urbana no Brasil, especialmente na Região Sul, (...) eventuais processos em andamento, assim como questões pessoais referentes ao passado do referido contratado não têm capacidade de prejudicar os negócios junto ao governo brasileiro ou demais empresas interessadas."
A Casa Civil informou que atendeu a uma solicitação de audiência da CRFG na semana passada e "não tinha conhecimento do histórico do representante indicado pela empresa".